Melhores Práticas no Trabalho | Ramona L. Hyman

Projeto de oração:

a oração como teoria e prática nas aulas de Literatura

O poeta afro-americano Langston Hughes sinaliza a importância da linguagem para a disciplina da oração no poema “Feet o’ Jesus” (Pés de Jesus). Na expressão pungente sobre a necessidade de Jesus, o eu-lírico roga a Jesus, dizendo:

Aos pés de Jesus,
... Senhor, deixe sua misericórdia
Venha à deriva por sobre mim.

Aos seus pés eu estou.
Ó, meu querido Jesus,
Por favor, estenda sua mão.1

Velada na petição popular de Hughes está a presença da linguagem como um veículo no qual as orações podem ser conduzidas, como diz Ellen G. White: “a oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo [...] A oração não faz Deus baixar a nós, mas eleva-nos a Ele.”2

A oração como ferramenta de comunicação celestial na vida do ser humano que busca viver com consciência celestial também é explorada no filme Quarto de Guerra. O filme examina os desafios nas relações humanas relacionadas ao casamento e aos negócios e oferece um exame prático do poder transformador e restaurador da oração na vida de uma pessoa. A essência da oração é expressa por um personagem central, Dona Clara, que representa a igreja no filme. Dona Clara tem um quarto de guerra (oração). Ela implora ao Senhor (em oração) que “levante uma geração de crentes que não se envergonhem do Evangelho”.3 Essa geração de crentes deve ser encorajada a estabelecer uma vida de oração sistemática.

Conceitualmente, a relação da oração (em termos gerais) com a atividade cerebral positiva é apoiada por pesquisadores como Andrew Newberg e Mark Robert Waldman, que sugerem que o cérebro precisa de oração. De acordo com Newberg e Waldman, “a fé está incorporada nos nossos neurônios e nos nossos genes, e é um dos princípios mais importantes a honrar na nossa vida”.4 Acredito que esse princípio pode ser integrado no ambiente educacional e, mais especificamente, nas aulas de literatura nas escolas adventistas porque a linguagem e a necessidade do ser humano por Deus (e tudo o que está relacionado a Deus) é o tema de muitas obras literárias. O Projeto de Oração, portanto, é oferecido como um modelo pedagógico que pode ser usado para incentivar os alunos a se envolverem em uma discussão intelectual e espiritual centrada no tema da oração.

Um fundamento bíblico

O Projeto de Oração está fundamentado em um texto bíblico familiar: 1 Tessalonicenses 5:17, em que os cristãos são explicitamente chamados a orar “continuamente”5 ou sem cessar. Portanto, se quisermos viver uma vida eterna de constante oração, a oração deve ser concebida como um dever cristão, e todos os aspectos do ser são chamados a uma vida ativa de oração. Isso sugere que a linguagem, como modalidade de oração, é essencial para uma vida de oração produtiva. Porque isto é verdade, o professor de linguagem, cristão, deve incluir a oração como teoria e prática nas aulas de Literatura e Redação para encorajar os alunos a criar criticamente um sistema de oração e a praticar uma sistemática vida de oração.

O Projeto de Oração

O Projeto de Oração utiliza pesquisas sobre a oração, o diário de oração e um “quarto de guerra” conceitual de oração para iniciar um diálogo interdisciplinar em torno do tema da oração. O objetivo do projeto é encorajar estratégias de oração como meio de comunicação e desenvolvimento de um relacionamento criativo e criticamente engajado com Deus. Esse é um aspecto crítico da integração da fé com o ensino.

Os alunos recebem um espaço físico e um ambiente de apoio para criar um laboratório de oração na sala de aula de Literatura. Eles trabalham coletivamente para abastecer o laboratório de oração com literatura, filmes, música e artigos acadêmicos sobre oração para ajudá-los a desenvolver seus projetos e estimular discussões em classe. Além disso, usando esses recursos, os alunos criam seus próprios projetos individuais de oração. Exemplos de projetos individuais incluem o seguinte:

  1. Um diário de oração semestral composto de reflexões, observações, poesia original e respostas a experiências com oração.
  2. Uma redação de memórias baseada em pesquisa (uma redação em primeira pessoa baseada na vida e experiência do autor) na qual os alunos desenvolvem uma posição teórica sobre a oração (ver o artigo de Malya Prather). Os alunos podem usar o filme Quarto de Guerra como texto básico para fundamentar seu ponto de vista. Além do filme Quarto de Guerra, os professores podem adicionar outros textos para os alunos explorarem, como poesias com a oração como tema, hinos, escritos de Ellen G. White sobre oração (ver Prayer (Oração) [Nampa, Idaho: Pacific Press, 2002], ou compilações similares) e música da cultura contemporânea.
  3. Uma apresentação em PowerPoint ou trailer de filme sobre suas memórias. Essa tarefa permite que os alunos usem habilidades técnicas e experimentem um componente interdisciplinar do processo de escrita.
  4. Um “quarto de guerra” pessoal e físico. Os professores podem projetar isso como uma tarefa centrada no aluno. Dê aos alunos a oportunidade de decidir como irão montar a sala e quantas vezes durante o semestre irão visitá-la. Os alunos também podem ter a oportunidade de coprojetar a rubrica para essa tarefa. Uma cópia da rubrica que criei com meus alunos naquele semestre está incluída na barra lateral (ver Rubrica da Sala de Oração).
  5. Um blog de oração. Usando uma das muitas plataformas de blog gratuitas disponíveis, os alunos podem desenvolver um blog de oração. Esse blog irá ajudá-los a construir ideias para o livro de memórias, pois apresentará seus pensamentos sobre oração, poemas de oração ou suas próprias orações. Essa tarefa também apoia a ideia de que escrever é um processo. Essas entradas de blog também podem ser usadas para ajudar os alunos a gerar ideias para o livro de memórias baseado em pesquisas. Algumas plataformas de blog gratuitas incluem WordPress, Blogspot, Blogger, Weebly e Wix.

Esses exemplos funcionam bem para aulas presenciais que acontecem em espaço físico. No entanto, podem ser adaptados ao ambiente on-line, prestando especial atenção à forma como os alunos irão envolver-se on-line e aos tipos de alternativas de avaliação que podem ser utilizadas.6 Além disso, deve ser dada atenção à procura de formas de diferenciar como os alunos demonstram envolvimento. Um aluno com deficiência visual, por exemplo, pode ter dificuldades em manter um blog de oração ou manter sistematicamente um diário de oração escrito. As adaptações podem incluir a utilização de diferentes formas de mídia (por exemplo, gravações de áudio) ou a utilização de um modelo de pequenos grupos, que permitirá que os membros do grupo ajudem uns aos outros.

Conclusão

O Projeto Oração foi elaborado para oferecer aos alunos um espaço físico onde possam refletir sobre a oração como teoria e prática. Esse exemplo mostra como isso foi implementado em um curso de crítica literária e fornece sugestões de como isso pode ser feito em uma aula de Literatura, onde a linguagem, o pensamento e a expressão são essenciais para o processo de escrita. Durante esse curso, os alunos estudaram e praticaram suas habilidades de escrita e composição. Eles se envolveram com pesquisa, com o processo da escrita e com o pensamento crítico. Além disso, o projeto proporcionou uma oportunidade de integrar temas de toda a escola, conforme expresso no plano-mestre espiritual da instituição. Por exemplo, na universidade onde dou aulas, os conceitos bíblicos de restauração e transformação, conforme delineados pelo Departamento de Vida Espiritual, são integrados ao longo do semestre à medida que os alunos trabalham nos seus Projetos de Oração. Essa abordagem pedagógica oferece aos professores e alunos a oportunidade de caminhar juntos não apenas com o conteúdo pretendido, mas também através de um processo intencional de integração da fé com o ensino.

O artigo de Malya Prather é um exemplo de redação de memórias realizada por um dos alunos do curso. Ela compartilha seu envolvimento em refletir e discutir sua jornada espiritual por meio da experiência, da poesia e do diário.


Ramona L. Hyman

Ramona L. Hyman, PhD, é professora de Inglês e diretora do Departamento de Inglês e Línguas Estrangeiras da Oakwood University, em Huntsville, Alabama, Estados Unidos. Ela atuou como palestrante para organizações como o Conselho Estadual de Artes do Alabama, Conselho de Artes de Huntsville e Fundação de Humanidades do Alabama. Hyman é autora de duas coleções de poesia – I Am Black America e In the Sanctuary of a South. Ela apresentou seu tributo poético “Montgomery 55 on My Mind” nacionalmente.

Citação recomendada:

Ramona L. Hyman, “Projeto de oração: a oração como teoria e prática nas aulas de Literatura,” Revista Educação Adventista 85:2 (2023). Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2023.85.2.6.

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Langston Hughes, “Feet o’ Jesus”. Disponível em https://allpoetry.com/poem/11284583-Feet-o--Jesus-by-Langston-Hughes. Esta fonte está em domínio público. A citação foi tirade do The Collected Poems of Langston Hughes, p. 78.
  2. Ellen G. White, Caminho a Cristo, p. 60. Disponível em: https://cdn.centrowhite.org.br/home/uploads/2022/11/Caminho-a-Cristo.pdf.
  3. War Room, directed by Alex Kendrick (TriStar Pictures, 2015), 1:50:40. Disponível em: https://www.sonypictures.com/movies/warroom.
  4. Andrew Newberg e Mark Robert Waldman, How God Changes Your Brain: Breakthrough Findings From a Leading Neuroscientist (New York: Ballantine Books, 2009), 20.
  5. Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional®.
  6. Para saber mais sobre como criar espaços on-line que podem facilitar experiências como o Projeto de Oração, consulte: Leni T. Casimiro, “Faith Presence: Creating Online Environments That Nurture Faith,” Revista Educação Adventista 80:1 (jan-mar. 2018): 16-21. Disponível em: https://circle.adventistlearningcommunity.com/files/jae/en/jae201880011606.pdf; Id., “Creative Online Devotionals,” ibid. 80:1 (jan.-mar. 2018): 35-39. Disponível em: https://circle.adventistlearningcommunity.com/files/jae/en/jae201880013505.pdf.