Charity Garcia • Ingrid Weiss Slikkers • Tara Bailey

Mudando nossas lentes:

abordagens práticas para educadores lidarem com trauma

Aprendizagem socioemocional. Diversidade e inclusão. Educação para lidar com trauma. Essas são palavras da moda na educação hoje, com interesse crescente à medida que os educadores buscam apoiar alunos e famílias em meio às consequências contínuas da covid-19.1 Professores e administradores de escolas pequenas e salas de aula multisseriadas precisam de soluções práticas que se alinhem com nossa cosmovisão adventista do sétimo dia e filosofia educacional.

Nós (os autores) compartilhamos o privilégio de trabalhar com jovens e professores em todo o mundo. Ainda assim, percebemos que, na realidade de nosso mundo quebrado, nossos alunos (e, para sermos honestos, até nós mesmos) estão tendo dificuldade em se concentrar em assuntos acadêmicos e realizar tarefas. As realidades individuais de várias formas de disfunção doméstica, abuso e negligência,2 violência comunitária, conflitos políticos, tensões raciais, desastres naturais e exposição consistente ao que pode ser minimizado como “traumas menores” ocorrem em um ritmo alarmante.3 Além disso, vários grupos de pessoas experimentaram traumas históricos compartilhados ou traumas coletivos. Certas categorias de crianças em idade escolar (racial, de gênero, com necessidades especiais, alunos neurodivergentes etc.) também têm diversas experiências que são compartilhadas e, às vezes, únicas. Todas essas experiências afetam o cérebro, a biologia, o corpo, as crenças e os comportamentos das pessoas.4

Talvez sejamos como os israelitas em Êxodo 6, que ficaram tão angustiados com o fardo de fazer mais tijolos com menos palha que, quando Deus enviou Sua mensagem redentora por meio de Moisés, eles não conseguiram ouvi-la (v. 9). Embora várias traduções da Bíblia usem outra terminologia, elas consistentemente mostram uma imagem de pessoas tão devastadas, com espíritos tão quebrantados que nem conseguiam ouvir a mensagem de libertação.

Quando eu (I.W.S.) trabalhava como terapeuta infantil e familiar antes de me tornar professora universitária, jovens com histórias pessoais devastadoras eram encaminhados a mim. O impacto dos estressores em seu sistema nervoso fazia com que eles não apenas tivessem dificuldades de aprendizado, mas também de gerenciamento de suas emoções, o que, a longo prazo, levaria a um potencial significativo para muitas condições prejudiciais. O cérebro é afetado negativamente à medida que os níveis do hormônio cortisol aumentam. Embora a produção de cortisol seja necessária para o funcionamento saudável do corpo e útil para ajudar o corpo a responder ao estresse, nos últimos anos, temos observado níveis que são tóxicos5 e podem produzir uma variedade de sintomas, como ansiedade, depressão, problemas digestivos, dores de cabeça, tensão muscular e dor, doença cardíaca, pressão alta e derrame, problemas de sono, ganho de peso e comprometimento da memória e da concentração.6

Como professora em uma escola de sala única, eu (T.B.) sinto isso. Salas de aula multisseriadas cheias de vários rostos tristes, pensamentos negativos, inseguranças, agressividade e comportamentos desagradáveis pintam apenas uma pequena imagem do que eu experimento ano após ano. Mesmo depois de servir como administradora e professora por mais de 20 anos, nunca me acostumei a enfrentar o desafio de receber novos alunos em minha sala de aula, sabendo que eles virão com uma ampla variedade de mentalidades, experiências e origens. Como educadora adventista, sei que desempenho um papel vital em como a diversidade é abordada em minha sala de aula numa escola pequena.

Eu (C.G.) tive a oportunidade única de lidar com as realidades que minha coautora (T.B.) compartilhou como professora do ensino fundamental e médio, bem como as responsabilidades de preparar professores em formação e educadores em serviço para atender às necessidades generalizadas de abordagens para lidar com o trauma com os alunos. A esperança é possível, especialmente quando os professores recebem ajuda ao serem capacitados com ferramentas e estratégias de implementação. É com esse entendimento que os educadores adventistas do sétimo dia podem abordar as diversas necessidades de uma variedade de grupos, levando em conta as diferenças e experiências individuais. Este é o cerne do trabalho de diversidade e inclusão para lidar com traumas.

Âmbito do problema

De acordo com Dan Siegel, “Trauma é a palavra usada para significar experiência(s) avassaladora(s)” ou “experiência(s) que temos que devasta(m) nossa capacidade de enfrentamento”.7 Os cérebros humanos estão respondendo ao estresse crônico, que está em níveis históricos devido ao estado atual do nosso mundo. Os níveis elevados de cortisol não estão permitindo que o corpo das pessoas passe de uma condição de resposta à crise para uma resposta de descanso e digestão/restauração, que é tão vital para o aprendizado e para as relações sociais.

A National Child Traumatic Stress Network (Rede Nacional de Estresse Traumático Infantil) afirma que as crianças que sofreram traumas podem experimentar uma variedade de respostas, incluindo transtorno emocional intenso e contínuo, sintomas depressivos ou ansiedade, alterações comportamentais, dificuldades de autorregulação, problemas relacionados a outras pessoas ou formação de apegos, regressão ou perda de habilidades previamente adquiridas, dificuldades de atenção e acadêmicas, pesadelos, dificuldade para dormir e comer e sintomas físicos, como dores e desconfortos.

Os adolescentes podem se entregar às drogas ou ao álcool, comportar-se de forma arriscada ou envolver-se em atividades sexuais não saudáveis.8 “O crescimento cerebral de alto nível é atrofiado, deixando algumas crianças com apenas metade de sua idade em funções cognitivas. As funções cerebrais de nível inferior, que controlam a fuga instintiva ou as respostas de luta, desenvolvem-se excessivamente em resposta ao trauma.”9

O capítulo do livro sobre respostas restaurativas para lidar com traumas no Revealing Jesus in the Learning Environment (Revelando Jesus no Ambiente de Aprendizagem) afirma: “A maioria dos traumas ocorre no contexto dos relacionamentos. Abuso, negligência, violência – tudo isso é infligido por outra pessoa, muitas vezes alguém próximo. Infelizmente, neste mundo quebrado, os relacionamentos muitas vezes podem trazer mais quebrantamento. Os alunos que você tem em suas salas de aula podem ter percepções distorcidas de si mesmos, dos outros e até mesmo de Deus devido à forma como foram tratados. Eles podem estar sofrendo as consequências duradouras do trauma de um relacionamento que deveria edificá-los em vez de destruí-los.”10

Não é incomum que o trauma se revele dentro das bases e do próprio processo de aprendizagem. Os alunos que têm traumas não resolvidos podem ter dificuldade em processar a comunicação oral e escrita e, portanto, se beneficiarão ao receber instruções em várias modalidades. A função executiva (os processos mentais e o funcionamento cognitivo que ajudam a regular o comportamento, a lembrar, planejar, focar e pensar) também costuma ser uma luta para muitos alunos. Instrução explícita, representação visual, prática guiada de procedimentos e conclusão de metas passo a passo são essenciais para seu sucesso. Compreender as relações de causa e efeito também pode ser muito difícil para esses alunos.11

Entender essas questões pode também oferecer uma visão sobre a razão pela qual os alunos podem não responder bem às estratégias de gerenciamento de sala de aula que dependem fortemente de uma abordagem orientada por consequências sem o suporte adicional de treinar novamente o cérebro para responder de maneira diferente no futuro. Os alunos podem ter dificuldades com as transições dentro ou entre disciplinas ou ser incapazes de manter o foco em seu trabalho acadêmico. Essa falta de foco não resulta da desatenção do aluno; ao contrário, é um foco hipervigilante que pode fazer parecer que todas as coisas estão erradas. Nossos alunos podem estar prestando atenção ao ambiente e às menores mudanças no tom, na cadência, linguagem corporal ou variedade de informações sensoriais ao seu redor para garantir sua própria segurança (para estratégias alternativas, recomendamos pesquisar Intervenção Relacional Baseada em Confiança do Karyn Purvis Institute of Child Development (http://tcu.edu), o trabalho de Lori Desautels sobre Connection Over Compliance (http://revelationsineducation.com) e o trabalho de Ross Greene sobre Solução Colaborativa de Problemas (http://www.cpsconnection.com).

Mudança de perspectiva

Diante do impacto impressionante do trauma, Sandra Bloom12 propõe mudar a perspectiva ao trocar a pergunta “O que há de errado com você?” para “O que aconteceu com você?”. Essa mudança revolucionará a forma como trabalhamos com pessoas emocionalmente feridas. A abordagem para lidar com o trauma implementa os três pilares de Howard Bath13 para alcançar um ambiente de cura e crescimento: segurança, conexões e gerenciamento de emoções.

Quando consideramos nossas salas de aula de escolas pequenas, especialmente a sala de aula única, pode ser opressor até mesmo para um professor experiente atender às necessidades dos alunos que podem estar enfrentando os desafios mencionados acima. Essas crianças devem se sentir seguras para que seus cérebros e corpos se desenvolvam e se curem. Conexões ou relacionamentos profundos, especialmente com adultos relevantes, são essenciais para o crescimento. E o reconhecimento e o gerenciamento das emoções são cruciais para o bem-estar ao longo da vida.14 Para apoiar os alunos culturalmente e socioemocionalmente, bem como ser sensível a seus traumas, o cuidado e a preocupação devem vir em primeiro lugar, antes do currículo e do conteúdo. É dentro desse desenvolvimento da pessoa como um todo que os alunos são preparados “para o gozo do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro”.15

Implementação dos princípios

À medida que procuramos incorporar esses pilares em uma estrutura já exigente, devemos nos apoiar na sabedoria, sucesso e força de Cristo (ver Filipenses 4:13; e Educação, p. 19). Inúmeras estratégias podem ser consideradas para cada ambiente individual de sala de aula. Ainda assim, os professores devem manter os três pilares em mente ao decidir se as estratégias que escolheram serão eficazes para seus alunos. Os autores e outros usaram as seguintes estratégias para atender com eficácia às necessidades desses alunos:

Segurança

Trabalhar arduamente para garantir que os alunos estejam fisicamente seguros (ou seja, usando vários exercícios, protocolos covid etc.) é fundamental, mas também é importante desenvolver um ambiente onde todos os alunos se sintam seguros. Certifique-se de construir intencionalmente relacionamentos e empatia com cada aluno. Aprenda o máximo possível sobre como cada aluno pensa e o que faz com que seus alunos se sintam seguros.

Crie horários e rotinas previsíveis (e planos de contingência para situações em que a flexibilidade é necessária)

As escolas geralmente são muito boas em desenvolver uma estrutura por meio de horários e rotinas. Desenvolva essa força criando uma estratégia para usar quando as coisas precisarem mudar. Por exemplo, ao apresentar o cronograma do ano, certifique-se de afixá-lo em sua sala de aula e falar sobre os horários em que a flexibilidade será necessária. Tenha cartões plastificados de cores específicas para representar esses horários exclusivos e pratique isso colocando um cartão próximo ao local no pôster da programação diária onde a flexibilidade é necessária. Por exemplo, um “cartão de flexibilidade” azul pode ser colocado ao lado da parte “almoço fora”, da programação, para mostrar que o intervalo para almoço ocorrerá no ginásio devido às condições climáticas. Garantir aos alunos que o professor tem um plano para o inesperado e ações físicas específicas para eles realizarem quando o inesperado ocorrer fará com que eles se sintam confiantes sobre sua segurança e proteção contínuas.

Espere respostas inesperadas

Quando os alunos passam por experiências traumáticas na vida, isso pode desencadear comportamentos que os professores poderiam rotular como “desafiadores”. Os educadores devem estar prontos para enfrentar quaisquer respostas inesperadas ao interagir com os alunos. A preparação para essas respostas pode ajudar os professores a transformar uma situação potencialmente desastrosa em uma experiência de aprendizado. Por exemplo, um professor pode se comprometer a fazer a pergunta: “Qual é a necessidade por trás do comportamento desse aluno?”. Com essa mentalidade, os professores podem identificar de cinco a sete comportamentos desafiadores mais comuns que estão ocorrendo em suas salas de aula (ou seja, desistência/falta de cuidado, respostas atrevidas, recusas que rapidamente se transformam em raiva ou choro, alunos correndo para fora da sala de aula) e identificar de forma mais proativa um conjunto de frases e ações para lidar com essas situações. Além disso, à medida que os professores conhecem seus alunos individualmente e suas prováveis respostas, eles podem trabalhar com a criança e a família para identificar respostas específicas que ajudarão o aluno a voltar a aprender.

Conexão

As relações entre o professor e os alunos podem afetar significativamente a resiliência dos alunos16 e os acadêmicos.17 De acordo com Perry e Szalavitz, “são as pessoas que mudam as pessoas, não os programas.”18 Uma maneira de fazer isso é realizar verificações diárias com os alunos. Por exemplo, peça aos alunos que usem a metáfora de um motor, verifiquem como estão indo e selecionem a cor apropriada: azul para “muito lento”, verde para “perfeito” e vermelho para “muito rápido” (consulte o programa Alerta: https://www.alertprogram.com/teachers/). Alternativamente, os alunos podem indicar como estão, acenando com polegares para cima, para baixo, para o lado ou identificando em um gráfico o que descreve com mais precisão seu estado de espírito.

Quando uma sala de aula é ocupada por várias séries, com alunos de idade e níveis de habilidade diferentes, as pesquisas podem identificar áreas problemáticas na vida desses alunos e aquilo que os fazem se sentir desconfortáveis. Com essas informações, o professor ou conselheiro pode conversar com eles individualmente para garantir que os resultados da pesquisa sejam precisos e, em seguida, tomar as medidas adequadas para resolver os problemas identificados.

Implemente interações significativas

As salas de aula de escolas pequenas podem rapidamente se tornar agitadas à medida que o professor tenta atender satisfatoriamente às muitas necessidades instrucionais de cada dia. Passando de um grupo para outro, há sempre o risco de perder uma conexão pessoal com o que está acontecendo com os alunos individualmente. Aqui estão três estratégias para ajudar os educadores de escolas pequenas a implementar interações significativas com seus alunos:

Estratégia 1: Concentre-se em mudar a forma como você dá instruções ou responde. Você pode reduzir comportamentos problemáticos com sua paciência e tom. Os professores representam 50% de cada interação com um aluno. Por exemplo: sua turma está trabalhando em um projeto em grupo, e alguns alunos não querem participar. Ao optar por ser paciente e perguntar por quê, você pode se surpreender ao descobrir que eles mostram maneiras pelas quais o projeto pode se tornar mais envolvente.

Estratégia 2: Evite diretivas autoritárias. Embora nós, como professores, sejamos a autoridade em nossas salas de aula, não precisamos tentar provar isso constantemente. Estamos lá para servir e ensinar, por isso devemos valorizar os sentimentos de cada aluno. As crianças podem se ressentir quando alguém se preocupa apenas em estar no comando e não em como elas se sentem, por isso devemos evitar disputas de poder sempre que possível. Devemos fazer uma pausa e considerar como dizemos as coisas e como nossas respostas fazem os outros se sentirem. Por exemplo: escreva as instruções cuidadosamente redigidas em um post-it e coloque-as com cuidado na mesa do aluno para evitar uma cena e, ao mesmo tempo, cumprir as instruções dadas. Permita um tempo de espera generoso para que as instruções sejam seguidas.

Estratégia 3: Dê a cada aluno uma sensação de controle na tomada de decisões. É assim que podemos usar nossa autoridade para orientar os alunos na boa tomada de decisões. Compartilhar o poder de tomada de decisão com nossos alunos permite que eles sejam donos de suas próprias escolhas e compromissos. Incorpore a escolha em suas direções. Por exemplo, em vez de dizer: “Faça fila com os outros alunos”, você pode oferecer a eles uma escolha perguntando: “Você gostaria de ir para a posição designada na fila ou para o fundo?”. As opções de escolha devem ser cuidadosamente redigidas para que os alunos aprendam o benefício de tomar boas decisões.

Construa conexão

Quando as escolas têm estruturas de sala de aula íntimas e uma pequena população estudantil, criar uma conexão com os alunos e conhecê-los como indivíduos desenvolverá confiança. Aqui estão algumas estratégias que funcionaram bem para nós:

Estratégia 1: Cumprimentar os alunos diariamente pelo nome é uma estratégia muito simples, mas facilmente esquecida. Todos os alunos, especialmente nossos alunos traumatizados, devem ser chamados pelo nome todos os dias na escola. Isso deve ocorrer logo pela manhã. Você pode ter um horário de encontro para permitir que todos os alunos se cumprimentem. Isso lhe dará a oportunidade de cumprimentar os alunos com quem você está procurando construir um relacionamento mais forte. Ensine a classe a cumprimentar com amor, carinho e respeito.

Estratégia 2: A regra 2 por 10 de McKibben19 é uma estratégia que pode ser usada especificamente para alunos que precisam desenvolver, o mais rápido possível, uma relação de confiança com seu professor para que ocorra uma aprendizagem efetiva. Para conhecê-los, converse com eles dois minutos por dia durante 10 dias seguidos sobre assuntos não relacionados a estudos ou comportamento. Como alternativa, se houver muitos alunos que se beneficiariam com essa estratégia, mas o professor não tiver tempo para implementá-la com cada um individualmente, um grupo, com dois minutos de registro no diário, pode ser usado. Durante 10 dias, os alunos reservam dois minutos por dia para registrar como se sentiram naquele dia. O professor então responde aos alunos escrevendo em seus diários fora do horário de aula. Essa estratégia de construção de confiança deve ser repetida várias vezes ao longo do ano, especialmente depois que os alunos demonstram raiva ou frustração e após as férias escolares e fins de semana prolongados.

Gerenciando emoções

Ensinar emoções e estratégias de autorregulação

Ensine e reforce ativamente o que os alunos já estão fazendo para ajudar a se acalmar quando estiverem muito animados ou chateados com alguma coisa (por exemplo, girar, balançar a perna ou se mover de um lado para o outro, cobrir a boca com a mão, mexer em alguma coisa, etc.). Apresente novas estratégias que possam promover esse objetivo (ou seja, respiração de caixa,20 cantarolar uma música, beber água gelada, fazer flexões na parede etc.). Dê aos alunos ampla oportunidade de praticar uma variedade de estratégias e desenvolver sua própria lista personalizada para consultar no futuro.

Mudar de canal

À medida que as relações de confiança são construídas entre professor e aluno, fica mais fácil afastar os alunos de comportamentos que dificultam o aprendizado. Em um ambiente de escola pequena, o professor pode treinar toda a escola ou sala de aula sobre como ajudar uns aos outros a manter o foco no aprendizado.

Às vezes, em nossas salas de aula pequenas, parece mais fácil separar e isolar os alunos. Infelizmente, durante esses intervalos, os alunos podem ficar remoendo lembranças negativas, em estressores atuais, pensamentos raivosos ou preocupações, o que pode ser contraproducente.

Pode ser útil para os alunos aprender que podem “mudar o canal” dentro de suas mentes para se concentrar melhor na escola. Explique que o cérebro deles é como um controle remoto que podem usar para “mudar de canal” para ajudá-los a se acalmar. Distrações cognitivas ou quebras cerebrais podem ajudar a reduzir o pensamento negativo. Por exemplo, para crianças pequenas, essas atividades de troca podem incluir um centro de escuta ou uma atividade tipo “encontre a imagem”. Para alunos mais velhos, você pode tentar criar um grupo de reflexão dentro da sala de aula, fornecer páginas para colorir às crianças mais velhas ou usar estratégias mais abstratas, como contar todos os itens verdes da sala, dizer o alfabeto de trás para frente etc.

Identifique e desenvolva os pontos fortes

Fazer bem alguma coisa fornece uma base para fazer bem outras coisas. Essa estratégia se presta bem a salas de aula pequenas, pois oferece ao professor a oportunidade de construir uma família de pontos fortes.

Muitas vezes é fácil focar nas fraquezas dos alunos. No entanto, quando os alunos se sentem necessários e valorizados, a atmosfera muda — eles se sentem fortalecidos por serem a pessoa que Deus os criou para ser. É importante que os alunos experimentem competência para desenvolver uma autonarrativa mais precisa e criar uma autoimagem positiva. Queremos que eles digam: “Gostei muito de ajudar os alunos mais jovens com suas obras de arte. Quando eu crescer, quero ajudar as crianças”; ou “Eu sou bom em consertar as coisas. Eu poderia ser um engenheiro ou mecânico algum dia”.

Ao dar feedback negativo, os professores podem começar e terminar com um comentário positivo: (1) “Gostei de como você se lembrou...”; (2) “Você cometeu um pequeno erro quando...”; (3) “Ótimo trabalho de se recompor depois de...”. Ajudar os alunos a ver sua competência ajuda a mudar nossa energia como professores de “resolver problemas” para “identificar e reforçar pontos fortes”.21

Conclusão

A perspectiva de lidar com o trauma pode parecer esmagadora. No entanto, a educação para lidar com o trauma não é uma lista de atividades, itens para a sala de aula, currículo ou mesmo uma mudança de linguagem; é uma maneira de ser, uma maneira de ver a nós mesmos e aos filhos que lideramos através dos olhos da plena aceitação de Deus.

Convidamos você a se juntar a nós em uma jornada em que, juntos, mantemos os três pilares da perspectiva para lidar com o trauma sempre à vista: segurança, conexão e gerenciamento de emoções. Para fazer isso, faça uma pausa todas as manhãs e todas as noites e pergunte a si mesmo: como eu vejo esses três pilares hoje? Como posso ser intencional sobre o planejamento de vê-los amanhã? Quando escolhemos essa “lente”, seremos capazes de criar ambientes seguros para crianças de qualquer origem serem vistas e totalmente aceitas – e estarem cientes de seu valor aos olhos de Deus. Ensinaremos enquanto reconhecemos e gerenciamos nossas próprias emoções e, possivelmente o mais importante, buscamos nos conectar intencional e profundamente com cada criança, pois é aqui que a transformação acontece.

Você se lembra dos filhos de Israel que não conseguiam nem ouvir a mensagem de redenção e liberdade? Assim como eles, também estamos numa jornada a caminho da derradeira terra prometida. Em tempos de tribulações, falta de recursos e desânimo, Moisés liderou o povo. E, embora tenha enfrentado medo, frustração e até raiva, ele segurou a mão de Deus e se apoiou em Aarão e outros. Busque e esteja aberto a se juntar a outros educadores, não apenas para apoio, mas também para ideias de implementação prática. Como educadores de escolas pequenas, podemos fazer parceria com outros educadores de escolas pequenas compartilhando estratégias e recursos por e-mails, sessões de coplanejamento via Zoom ou sessões de trabalho administrativo. Deus pisou cada passo do caminho com Moisés, e Ele promete fazer o mesmo por nós.

Este artigo foi revisado por pares

Charity Garcia

Charity Garcia, PhD, é professora associada de Currículo e Instrução, e também atua como coordenadora de Currículo e Programa de Instrução e diretora de Educação do ensino fundamental e médio para o Centro Internacional de Educação e Cuidados de Trauma na Andrews University (Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos). Possui graduação em Educação Secundária (Inglês e Artes Visuais), mestrado em Educação Religiosa com ênfase em Integração de Fé e Ensino (Universidade Andrews) e PhD em Currículo e Instrução, com ênfase em Minorias e Educação Urbana (Andrews University). Sua experiência como educadora inclui ensinar alunos do ensino fundamental e médio em ambientes urbanos, rurais e internacionais em sistemas educacionais públicos, adventistas e sem fins lucrativos.

Ingrid Weiss Slikkers

Ingrid Weiss Slikkers, LMSW, CCTP, CFTP, é professora assistente de Serviço Social e diretora executiva do International Center for Trauma Education and Care na Andrews University (Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos). Suas experiências profissionais incluem trabalhar como terapeuta infantil e familiar com foco em traumas e perdas e trabalhar com populações de imigrantes e refugiados. Ela é uma profissional clínica certificada para lidar com traumas (Certified Clinical Trauma Professional), membro da International Association of Trauma Professionals e Trust Based Relational Intervention Practitioner (TBRI).

Tara Bailey

Tara Bailey, MA, é uma educadora experiente que atua como diretora da Escola Adventista Ozark em Gentry, Arkansas, Estados Unidos. Ela é membro do Southwestern Union Curriculum Committee, bem como do North American Division Multigrade Pathways Curriculum e atualmente atua como redatora de currículo para o Stepping Stones K-2 Bridge. Ela atuou como administradora e professora em todo o país, do jardim de infância ao ensino médio, e possui uma Certificação de Administradora em Supervisão de Instrução (Administrator Certification in Supervisor of Instruction).

Citação recomendada:

Charity Garcia, Ingrid Weiss Slikkers e Tara Bailey, “Mudando nossas lentes: abordagens práticas para educadores lidarem com trauma,” Revista Educação Adventista 84:3 (2022). Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2022.84.3.3.

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Sharmeen Mahmud, “A Case Study Addressing Trauma Needs During Covid-19 Remote Learning from an Ecological Systems Theory Framework,” BMC Psychology 10:1 (2022): 141. doi.10.1186/s40359-022-00848-y; Gary W. Harper e Leah C. Neubauer, “Teaching During a Pandemic: A Model for Trauma-Informed Education and Administration,” Pedagogy in Health Promotion 7:1 (2021):14-24. doi.10.1177/2373379920965596.
  2. Vincent J. Felitti et al., “Relationship of Childhood Abuse and Household Dysfunction to Many of the Leading Causes of Death in Adults,” American Journal of Preventive Medicine 14:4 (1o maio 1998): 245-258. doi.10.1016/s0749-3797(98)00017-8.
  3. Jenna Quinn, “3 Realms of ACEs-Updated,” Paces Connection (6 out. 2020). Disponível em: https://www.pacesconnection.com/blog/3-realms-of-aces-updated.
  4. Karyn B. Purvis, David R. Cross e Wendy L. Sunshine, The Connected Child: Bring Hope and Healing to Your Adoptive Family (New York: McGraw-Hill Education, 2007).
  5. Monica Bucci et al., “Toxic Stress in Children and Adolescents,” Advances in Pediatrics 63:1 (1o ago. 2016), 403-428.doi.10.1016/j.yapd.2016.04.002.
  6. Mayo Clinic Staff, “Chronic Stress Puts Your Health at Risk,” MayoClinic.org (8 jul. 2021). Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/stress-management/in-depth/stress/art-20046037#:~:text=Cortisol%2C%20the%20primary%20stress%20hormone,fight%2Dor%2Dflight%20situation.
  7. Dan Siegel et al., “Treating Trauma Master Series,” National Institute for the Clinical Application of Behavioral Medicine (NICABM) (n.d.). Disponível em: https://s3.amazonaws.com/nicabm-stealthseminar/Trauma2017/confirmed/NICABM-TreatingTraumaMasterSeries-Module1MainSession-NeurobiologyTrauma.pdf.
  8. Sarah Peterson, “About Child Trauma,” The National Child Traumatic Stress Network, (5 nov. 2018). Disponível em: https://www.nctsn.org/what-is-child-trauma/about-child-trauma.
  9. Purvis, Cross, and Sunshine, The Connected Child: Bring Hope and Healing to Your Adoptive Family.
  10. Charity Garcia et al., “When You Get That Student: Trauma-informed Restorative Responses.” In Peter Kilgour and Beverly June Christian, eds., Revealing Jesus in the Learning Environment: Experiences of Christian Educators (Cooranbong, N.S.W., Australia: Avondale College Press, 2019), 101-13.
  11. Trauma and Learning Policy Initiative (TLPI), “Videos –Trauma Sensitive Schools – Safe and Supportive Schools,” Helping Traumatized Children Learn (4 set. 2020). Disponível em: https://traumasensitiveschools.org/videos/.
  12. Citado por Laura Mirsky, “The Sanctuary Model: A Restorative Approach for Human Services Organizations: News,” International Institute for Restorative Practices (3 mar. 2010). Disponível em: https://www.iirp.edu/news/the-sanctuary-model-a-restorative-approach-for-human-services-organizations.
  13. Howard Bath, “The Three Pillars of TraumaWise Care: Healing in the Other 23 Hours,” Reclaiming Children and Youth 23:4 (inverno de 2015): 5-11. Disponível em: https://www.traumebevisst.no/kompetanseutvikling/filer/23_4_Bath3pillars.pdf.
  14. Ibid.
  15. Ellen G. White, Educação (Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2003), p. 13.
  16. Dana Brown, “Resilience Questionnaire,” ACEs Task Force of San Bernardino County, Paces Connection (1o mar. 2017). Disponível em: https://www.pacesconnection.com/g/san-bernardino-aces-connection/resource/resilience-questionnaire-pdf.
  17. Sandra M. Chafouleas et al., “Addressing Childhood Trauma in School Settings: A Framework for Evidence-based Practice,” School Mental Health 11:1 (2018): 40-53. doi.10.1007/s12310-018-9256-5; Stephanie Haman, “Trauma-Informed Practices and Their Effects on Student Behaviors,” NW Commons (2021). Disponível em: https://nwcommons.nwciowa.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1314&context=education_masters; Satu Larson et al., “Chronic Childhood Trauma, Mental Health, Academic Achievement, and School-based Health Center Mental Health Services,” Journal of School Health 87:9 (2017): 675-686. doi.10.1111/josh.12541; Shelley M. Thomas et al., “Trauma-informed Practices in Schools across Two Decades: An Interdisciplinary Review of Research,” Review of Research in Education 43:1 (mar. 2019): 422-452. doi.10.3102/0091732X18821123; Heidi B. Von Dohlen et al., “Trauma-informed Practices in a Laboratory Middle School,” Middle School Journal 50:4 (2019): 6-15. doi.10.1080/00940771.2019.1650549.
  18. Bruce D. Perry e Maia Szalavitz, The Boy Who Was Raised as a Dog (New York: Basic Books, 2007).
  19. Sarah McKibben, “The Two-minute Relationship Builder,” ASCD (1o jul. 2014). Disponível em: https://www.ascd.org/el/articles/the-two-minute-relationship-builder.
  20. “A respiração de caixa é uma técnica de relaxamento poderosa, mas simples, que visa retornar a respiração ao seu ritmo normal após uma experiência estressante. Pode ajudar a limpar a mente, relaxar o corpo e melhorar o foco: MedicalNewsToday, “What Is Box Breathing?” (6 jan. 2023). Disponível em: https://www.medicalnewstoday.com/articles/321805.
  21. Jessica Minahan, “Trauma-informed Teaching Strategies,” Educational Leadership 77:2 (out. 2019): 30-35. Disponível em: https://www.ascd.org/el/articles/trauma-informed-teaching-strategies.