Na primeira etapa deste artigo de duas partes (disponível em https://www.journalofadventisteducation.org/2020.82.3.5), os leitores foram apresentados ao projeto e à metodologia de um estudo que examinou a cultura adventista no território continental dos Estados Unidos, suas raízes, ramificações e relatividade entre os membros da igreja.

Cada comunidade tem sua própria cultura, nascida de experiências compartilhadas, linguagem compartilhada e costumes compartilhados, e a Igreja Adventista do Sétimo Dia não é diferente. Se perguntados, os membros adultos da igreja americana podem citar a comida taco ou uma caminhada às margens de um lago no sábado, mas nadar, não. Eles poderiam discutir apaixonadamente sobre as preferências por um tipo de carne vegetariana em relação a outro ou se o valor de uma determinada carta num jogo popular deve ser alto ou baixo. Eles podem relembrar viagens acadêmicas de campo, competições atléticas da escola, viagens para acampamentos ou banquetes enquanto frequentavam uma das instituições de ensino superior da igreja; no entanto, conforme discutido no primeiro artigo, essas são questões culturais.

Minha pesquisa focou especificamente nesse paradigma da cultura adventista. Para começar, eu queria saber se ele realmente existia. Uma coisa é discutir histórias durante um almoço comunitário; outra, é produzir evidências empíricas. Mas, se os membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia na América têm uma cultura compartilhada – que é a minha hipótese –, eu queria dar um passo adicional e examinar a força das tendências culturais de vários indivíduos e seu efeito no comportamento, ou seja, a escolha da escola.

Este artigo compartilhará os resultados e descobertas de minha pesquisa, avaliará as ramificações para a escolha da escola e fornecerá uma discussão cuidadosa sobre as maneiras de usar melhor esses dados em nível local. Este estudo foi conduzido antes da pandemia Covid-19 e da mudança subsequente para o aprendizado virtual, e, portanto, as recomendações para aplicação são específicas para ambientes de aprendizado presencial.

Resultados

Para uma imagem mais completa do estudo, é útil primeiro entender a composição demográfica daqueles que responderam. Os critérios para a pesquisa1 foram (a) membro de uma Igreja Adventista do Sétimo Dia local nos Estados Unidos e (b) pai/mãe de uma criança em idade escolar do ensino fundamental ao médio no ano escolar de 2017-2018.

Do total de entrevistados,

  • 82,7% tinham entre 36 e 55 anos;
  • 86,7% eram casados;
  • 81% tinham diploma de faculdade ou superior;
  • 61% tinham uma renda anual de mais de US$80.000;2
  • 75% eram brancos, 13% hispânicos, 9% asiáticos e 5% afro-americanos;
  • 19% nunca frequentaram uma escola adventista nos níveis fundamental e médio, 20% frequentaram uma escola adventista nos níveis fundamental e médio alguns anos e 61% frequentaram uma escola adventista nos níveis fundamental ou médio durante a maior parte ou toda a sua experiência nesses níveis.

Passando da análise descritiva para um exame mais minucioso dos dados, me voltei às minhas perguntas originais da pesquisa. Primeiro, como a escolha da escola difere entre os pais adventistas? Acontece que vários fatores que emergiram da análise fatorial provaram haver uma relação significativa com a escolha da escola.

Houve uma correlação entre o próprio contexto educacional dos pais e a escolha da escola para seus filhos (Figura 1). De todos aqueles que frequentaram uma escola adventista, mesmo que durante parte de sua experiência de ensino fundamental ou médio, mais de 60% optaram por colocar seus filhos em uma escola adventista de ensino fundamental e médio. Em contraste, apenas 20% desses pais escolheram uma escola não adventista para seus filhos.3

A renda também surgiu como um fator significativo para a escolha da escola. Como visto na Figura 2, os pais que relataram ganhos de menos de US$40.000 por ano eram muito menos propensos (6,2%) a colocar seus filhos em uma escola de ensino fundamental ou médio adventista ou a educá-los em ensino domiciliar do que aqueles que ganhavam mais de US$121.000 (29,9%). No entanto, houve muito pouca diferença na escolha da escola ao comparar as faixas de renda média, US$40.000 a US$120.000.

No instrumento de pesquisa, os entrevistados foram solicitados a indicar em uma escala móvel de 0-100% a porcentagem de amigos e colegas de trabalho adventistas que tinham. No processo de limpeza dos dados, categorizei as respostas como 0-49% e 50-100%. Isso se mostrou um fator significativo para a escolha da escola. Os pais que estavam imersos em uma rede social adventista tinham quatro vezes mais probabilidade de matricular seus filhos em uma escola adventista de ensino fundamental e médio do que em uma escola não adventista (Figura 3). Eles também eram duas vezes mais propensos a escolher uma escola adventista do que seus colegas, que não tinham tantos relacionamentos pessoais ou profissionais adventistas.

Outra variável (a União onde o entrevistado morava) também foi significativamente associada à escolha da escola (p<0,01). Essa variável categórica separou os respondentes em agrupamentos usando as oito regiões geográficas da Divisão Norte-Americana localizadas nos Estados Unidos (Figura 4.) Em geral, parecia que, embora a maioria dos adventistas americanos entrevistados enviassem seus filhos para uma escola adventista de ensino fundamental e médio, havia variações entre as Uniões.

Minha segunda pergunta de pesquisa enfocou especificamente a relação entre a força da identidade cultural e a escolha da escola: como o grau de consonância cultural com o modelo adventista do sétimo dia se relaciona com a escolha da escola? O objetivo de desenvolver o domínio cultural e a escala, para começar, era para que eu pudesse desenvolver uma medida com a qual mensurar a identidade cultural. Mas, para descobrir se o grau de identidade cultural está relacionado à escolha da escola, a variável de identidade cultural foi primeiro estratificada em três categorias: baixa, média e alta. Os respondentes na categoria baixa foram aqueles que exibiram um baixo grau de consonância cultural (identidade); isto é, eles frequentemente ou geralmente não praticavam ou viviam as normas culturais, tradições ou expectativas da cultura adventista do sétimo dia. Os limites para cada categoria foram escolhidos examinando-se primeiro um histograma da pontuação de consonância cultural de todos os entrevistados. Por causa das curvas grosseiras observadas no histograma conforme ilustrado na Figura 5, foi decidido que “baixo” = < -55, “médio” = -54,99 - 34 e < 35+ = consonância cultural alta.

Com os dados derivados dos resultados da pesquisa, eu pude categorizar os entrevistados como tendo níveis altos, médios ou baixos de identidade cultural. Portanto, havia uma diferença entre aqueles que tinham uma forte identidade com a cultura adventista e aqueles que não a tinham.

Com a variável consonância cultural estratificada, a consonância cultural e a escolha da escola foram examinadas dentro de uma tabulação cruzada. Os entrevistados que exibiram baixa consonância cultural eram menos propensos a enviar seus filhos para uma escola adventista do que aqueles com consonância cultural média ou alta. No entanto, aqueles que exibiram a maior consonância cultural não tiveram a maior porcentagem de crianças matriculadas em uma escola adventista; em vez disso, aqueles nessa categoria tiveram a maior porcentagem de crianças educadas no ensino domiciliar. Aqueles que demonstraram um grau médio de consonância cultural foram os mais propensos a enviar seus filhos para uma escola adventista. Uma representação visual simples é fornecida na Figura 6. Aqueles com baixa identidade cultural tendiam a matricular seus filhos em escolas não adventistas, aqueles com identidade cultural média escolheram escolas adventistas e aqueles com os níveis mais altos de identidade cultural educavam seus filhos no sistema domiciliar.

Com essas descobertas, podemos retornar à estratificação por União e avaliar a força da identidade cultural por meio dessa estrutura. A Figura 7 indica que a Atlantic Union e a Southern Union apresentaram a maior percentagem de respondentes com elevados níveis de identidade cultural. Olhando para a Figura 4, essas duas Uniões também tiveram porcentagens altas daqueles que optaram pelo estudo domiciliar, o que certamente ajuda a validar a conexão proposta por este estudo com relação à cultura adventista e escolha de escola. Além disso, Lake Union e Pacific Union tiveram a maior porcentagem de entrevistados com baixa identidade cultural e altas porcentagens correspondentes de alunos não adventistas.4

Discussão

Neste estudo, propus que a escolha da escola é uma extensão da identidade religiosa e cultural de uma pessoa. Daí a hipótese de que capturar perfis religiosos e culturais dos pais produziria ideias valiosas sobre a escolha de uma escola de ensino fundamental e médio para seus filhos, conforme evidenciado pela terceira e última pergunta da pesquisa: até que ponto a religiosidade geral, o compromisso doutrinário e a identidade da igreja dos pais adventistas do sétimo dia, conforme representado por meio da consonância cultural, prevê a escolha da escola para seu filho? E os resultados certamente forneceram várias descobertas a serem descompactadas e examinadas mais de perto.

Ao observar a formação educacional dos entrevistados, os dados demonstraram que aqueles que haviam passado algum tempo em uma escola adventista eram mais propensos a matricular seus filhos em uma escola adventista (61,2%) do que aqueles que não tinham experiência anterior com a educação adventista (51,5%). Além disso, houve uma associação significativa entre a escolha da escola e a própria formação educacional dos entrevistados (X2=31,423, p<0,01). Isso indica que quanto mais anos os adventistas americanos passaram em uma escola adventista de ensino fundamental e médio maior a probabilidade de enviarem seus filhos para uma escola adventista, uma observação que se alinha perfeitamente com outras descobertas dos graduados de outras escolas religiosas, mais propensos a enviar seus filhos para escolas religiosas do que suas contrapartes que frequentavam escolas públicas.5

Pode haver vários elementos envolvidos com essa variável. Para começar, eles podem apontar para um nível de familiaridade ou inclusão em relação às experiências dos entrevistados no sistema educacional adventista. Em 2016, o Centro de Pesquisa sobre Educação Adventista de ensino fundamental e médio (Center for Research on K-12 Adventist Education-Crae) conduziu uma pesquisa informal, perguntando aos membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Divisão Norte-Americana o motivo pelo qual eles acreditavam na educação adventista. Os resultados foram tabulados em uma peça de marketing que elencou as principais “100 razões para a educação adventista”.6 Das centenas de respostas que chegaram ao escritório do Crae, no topo da lista estava a ideia de estar rodeado por pessoas que pensam da mesma forma. Comentários sobre esse fim incluíram:

  • Os alunos são convidados para uma família de colegas e professores adventistas do sétimo dia;
  • Estar entre crentes semelhantes;
  • Uma extensão dos valores que são ensinados em casa;
  • Os alunos da educação adventista compartilham sua moralidade ou entendem por que você escolheu viver dessa maneira.

Essas afirmações, embora coletadas informalmente, parecem corresponder à ideia de que as experiências que esses entrevistados tiveram em uma escola adventista foram confortáveis e familiares e que eles gostariam que seus filhos tivessem experiências semelhantes; semelhante à mentalidade: “gostamos do que sabemos e sabemos do que gostamos”.

Esses dados também indicam que não só a experiência era familiar, mas também positiva. A própria frequência a uma escola adventista, especialmente se for uma experiência positiva, parece levar a pessoa a considerar essa opção mais fortemente para a próxima geração.

Do ponto de vista do marketing, isso também parece ser algo que vale a pena examinar com mais atenção. Os recrutadores para a educação adventista precisam fazer esta pergunta aos ex-alunos: quais foram os pontos positivas em sua experiência em uma escola adventista? Que tipo de memórias de uma escola adventista de ensino fundamental e médio devem continuar a ser construídas e perpetuadas? Que elementos da educação adventista de 20 a 30 anos atrás devem ser mantidos?

Outra variável emergida que fala às diferenças nos membros da Igreja Adventista Americana é a localização geográfica, conforme definido pelas fronteiras das Uniões. Houve uma associação significativa entre União e opção de escola (X2 = 55,311, p<0,01), indicando que há uma relação entre o local onde os entrevistados moram e onde escolhem colocar os filhos na escola. A União Norte do Pacífico teve a maior percentagem de entrevistados que escolheram a educação adventista para seus filhos (68,2%), bem como uma das menores percentagens de entrevistados que optaram por uma escola não adventista (14,6%). Isso parece apontar para um alto nível de compromisso com a educação adventista nos estados do noroeste que compõem a União Norte do Pacífico. Curiosamente, alguns anos atrás, um doador anônimo cobriu todas as dívidas de qualquer escola de ensino fundamental e médio na Associação de Oregon, uma das seis associações na União Norte do Pacífico. Sheldon Eakins, diretor de uma das escolas da Associação de Oregon, disse: “Alguém com um coração voltado para a educação cristã queria que a escola pudesse avançar e construir, em vez de se concentrar em dívidas”. O compromisso deste único doador com as escolas de Oregon parece se alinhar estreitamente com o restante do apoio da União à educação adventista.

Na Lake Union, 32,4% dos entrevistados enviaram seus filhos a uma escola não adventista, a maior percentagem entre as oito Uniões. Isso é particularmente interessante, visto que a Lake Union é o lar da Universidade Andrews e do Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia, uma instituição educacional que treina aspirantes a pastores para a Igreja mundial. Ter uma base constituinte dessa natureza levaria a crer que a percentagem dos que escolheram as escolas adventistas seria maior.

No entanto, um dos tópicos emergentes na conversa sobre o declínio das matrículas nas escolas adventistas na América do Norte é a falta de participação, contexto e compreensão do papel da educação adventista entre os pastores adventistas. Estudos recentes mostram que muitos pastores são indivíduos de segunda carreira, com pouco ou nenhum histórico de educação adventista.7 Por uma variedade de razões, muitos não frequentaram uma escola adventista na infância e, portanto, tinham pouco entendimento ou lealdade para com a educação adventista quando adultos.

Justaposta a essa ideia está uma conversa que tive com o diretor da Andrews Academy, um colégio de ensino médio adventista em Michigan. Ele observou que existe uma mentalidade interessante naquela comunidade sobre as escolas adventistas e não adventistas. Embora muitos membros sejam “adventistas convictos”, comprometidos com a igreja de várias maneiras, incluindo alunos de seminário sendo educados para um dia liderar uma igreja, eles frequentemente enviam seus filhos para a escola pública dentro da comunidade porque se acham suficientemente adventistas.8 Há vários professores adventistas que lecionam nas escolas públicas locais, e a estimativa é que cerca de 40% da população estudantil nas escolas públicas de Berrien Springs seja adventista. Há até um ônibus escolar que chega ao campus da Andrews University para pegar os alunos e levá-los à escola pública da cidade. Em uma comunidade como essa, onde existe uma escola próxima a uma grande universidade ou hospital adventista, ou onde o financiamento da educação adventista pode ser um desafio devido ao custo das mensalidades não apenas para as crianças, mas também para os pais matriculados no ensino superior, muitos membros da igreja optam por enviar seus filhos às escolas públicas porque elas parecem adventistas. Esse contexto pode explicar em parte a alta percentagem de entrevistados na Lake Union que escolhem escolas não adventistas.

Outra variável que pode revelar diferenças entre os entrevistados é a renda familiar líquida. O custo da mensalidade é um problema frequentemente citado quando se discutem questões de matrícula. Os pais às vezes argumentam que a razão pela qual não mandam seus filhos para uma escola adventista é porque o fardo financeiro é muito grande. Os dados realmente demonstram uma associação significativa entre renda e escolha da escola. Daqueles que escolheram uma escola adventista para o filho mais velho, os entrevistados que relataram a renda mais baixa, US$40.000 ou menos, tiveram a menor percentagem (6,1%), enquanto aqueles que relataram a maior renda familiar, US$121.000 ou mais, tiveram a maior percentagem (29,7%). Curiosamente, porém, entre os entrevistados que escolheram uma escola adventista, o grupo de US$41.000 a US$60.999 (16,1%) teve uma porcentagem maior do que o de US$61.000 a US$80.999 (13,4%) e houve porcentagens semelhantes para o grupo de US$81.000 a US$99.999 (16,9%) e o grupo de US$100.000 a US$120.999 (17,8%).

Em outras palavras, a renda fez a maior diferença na escolha da escola quando se compararam as camadas mais alta e mais baixa de renda, mas não foi tão perceptível nos grupos de renda média. Isso leva a crer que, embora a renda possa certamente ser um fator determinante para aqueles que geram menos renda, não parece ser um problema significativo para os outros.

Outro elemento particularmente interessante é a variável pertencente à rede social adventista. A relação significativa que os dados demonstram relaciona-se ao círculo de influência que os amigos mais próximos podem exercer em decisões importantes da vida. Quando a variável foi ainda mais colapsada, a tabulação cruzada mostrou que daqueles adventistas americanos que escolheram escolas denominacionais de ensino fundamental e médio (N = 536), 90,79% tinham uma grande porcentagem de amigos adventistas (mais de 50%). Da mesma forma, entre o grupo cujos amigos eram em sua maioria adventistas, cerca de 65% escolheram uma escola adventista, enquanto apenas 16% escolheram uma escola não adventista.

Isso parece apontar para um grau de pressão ou expectativa social que, neste caso, apoiou a educação adventista. As normas sociais podem ter sanções internas, por exemplo, quando alguém escolhe agir de certa maneira mesmo na ausência de plateia, como ajoelhar-se para orar ao lado da cama ou não arrotar em voz alta. Normas sociais, no entanto, também podem exercer fortes sanções externas, quando as pessoas se comportam de uma maneira específica por causa das expectativas daqueles ao seu redor.9 Neste caso, o fato de que uma grande percentagem daqueles que escolheram escolas adventistas eram indivíduos que tinham um grande número de amigos adventistas fornece um exemplo robusto de sanções externas em ação. É fácil imaginar que o Membro da Igreja A, alguém que mora perto de uma grande universidade adventista e cuja rede de amigos e colegas inclui principalmente outros membros da igreja adventista, pode fazer escolhas diferentes do Membro da Igreja B, que vive em uma parte rural da cidade e tem que dirigir 40 milhas para ter comunhão com outros membros na igreja adventista mais próxima.

Também é interessante notar o valor inverso – quase exatamente metade dos entrevistados (50,7%) que não tinham muitos amigos adventistas (0-49%) escolheu uma escola não adventista para seu primogênito. Enquadrado de uma forma ligeiramente diferente, se a rede de amigos de um entrevistado fosse em grande parte adventista, ele teria duas vezes mais probabilidade de enviar seu filho a uma escola adventista (64,6%) do que a uma escola não adventista (33,1%).

Essa influência social dentro da consonância cultural pode ser particularmente significativa para administradores de igrejas e escolas interessados nos padrões de matrícula para o sistema educacional adventista. Os dados deste estudo parecem indicar que a adesão de um membro da igreja à doutrina adventista está menos associada à escolha de uma escola adventista do que sua pontuação de consonância cultural. Consequentemente, as campanhas de recrutamento escolar destinadas a membros da Igreja Adventista seriam mais eficazes se focassem em promover relacionamentos sociais e comunitários, em oposição a fortalecer o compromisso doutrinário. Em outras palavras, os pais adventistas podem ser mais propensos a optar por uma escola adventista se fizerem mais amigos adventistas do que se forem repentinamente condenados por uma doutrina.

Existem alguns aspectos da cultura adventista que são mais conservadores do que outros. Por exemplo, modéstia no vestuário e crenças religiosas conservadoras são geralmente entendidas como indicadores de um adventista conservador. Essas duas variáveis, no entanto, não mostram qualquer evidência de associação mais forte com a escolha da escola, levando a crer que o que é entendido coloquialmente pode não ter realmente a correlação esperada.

Os dados usados para a Figura 7 foram uma média de pontuações de consonância cultural (identidade) para entrevistados que escolheram escolas adventistas, escolas não adventistas e educação domiciliar. Aqueles com pontuações de consonância cultural mais altas estudaram em casa, aqueles com pontuações de consonância cultural baixas matricularam seus filhos em escolas não adventistas e aqueles com pontuações de consonância cultural moderada enviaram seus filhos para escolas adventistas.

Então, o que significa para as partes interessadas na educação adventista se aqueles que são altamente consonantes culturalmente e aqueles que estão com baixa consonância cultural têm menos probabilidade de enviar seus filhos para uma escola adventista? As escolas que estão dentro dos limites de uma comunidade adventista mais liberal ou cuja população adventista em geral pode ser menos conservadora do que a norma podem precisar encontrar maneiras de promover uma visão positiva e atraente da escola.

Por exemplo, olhando para a Figura 4, os membros da igreja na União do Atlântico, uma região que tem os mais altos níveis de identidade cultural, podem ser mais propensos a enviar seus filhos para uma escola adventista do que os membros da igreja que residem na União do Pacífico, uma região que apresenta a média de consonância cultural mais baixa. Os recrutadores escolares da União do Pacífico que buscam aumentar o número de matrículas em seu campus podem não achar tão eficaz promover os elementos exclusivamente adventistas de sua escola, como cultos todas as sextas-feiras à noite ou o taco entre os alunos na noite de retorno às aulas. Eles podem se sair melhor enfatizando coisas que atrairiam um consumidor mais geral que procura escolas para seus filhos: alto nível acadêmico, ambiente seguro, ofertas extracurriculares etc.

Outra descoberta fascinante neste contexto de consonância cultural é o componente do ensino domiciliar. Os dados deste estudo parecem ser paralelos à ideia geralmente aceita de que os pais mais conservadores escolherão a educação domiciliar. Embora o ensino domiciliar na América tenha se tornado um pouco mais popular, rompendo com o estereótipo anterior de ser adotado por cristãos rurais, ultraconservadores e antigovernamentais, ele certamente mantém os fundamentos de uma mentalidade alternativa, talvez até radical. Este estudo, portanto, afirma a ideia de que os adventistas americanos que são culturalmente mais consoantes, mais conservadores e tradicionais escolhem estudar em casa também. Ao contrário das famílias que têm pontuações mais baixas de identidade cultural e estão procurando uma escola que não seja tão adventista, essas famílias podem recusar-se a escolher escolas adventistas porque pensam que elas não são adventistas o suficiente ou porque sentem que seu sistema de crenças mais conservador não é espelhado na escola adventista local.

No momento em que escrevo, os Estados Unidos da América estão envolvidos em turbulências políticas e sociais, com indiscutivelmente maior fervor e hostilidade transbordante do que tem sido visto nos últimos anos. Pode-se ousar dizer que o país está se tornando cada vez mais polarizado em vários níveis diferentes. Talvez a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América esteja experimentando sua própria polarização cultural. Os membros estão se identificando mais fortemente com os elementos culturais da igreja ou se afastando completamente deles. A janela do “adventismo moderado”, pode-se supor, está diminuindo. E, se a preponderância de estudantes adventistas vem de famílias nessa janela, o declínio nas matrículas, visto sob esta luz, faz sentido.10

A educação adventista, portanto, se encontra em um dilema interessante. Deveriam as escolas se tornar mais adventistas para atrair aqueles em uma extremidade do espectro cultural, ou deveriam tentar ser menos adventistas para atrair aqueles que têm níveis mais baixos de identidade cultural? E quanto às escolas missionárias, onde os pais, frequentemente não membros da igreja, desejam que seus filhos recebam uma educação baseada em valores cristãos? Essas são questões debatidas nas últimas décadas. Algumas escolas escolheram o primeiro caminho, enfatizando princípios como vida saudável, cuidado com o meio ambiente e outras ênfases. Por exemplo, a Escola Adventista Needles, em Needles, Califórnia, instrui os alunos sobre os benefícios de uma dieta vegetariana sem remorso algum. O impacto dessa prática é evidente nas respostas dos pais, muitos dos quais não são membros da Igreja Adventista. No outro extremo do espectro, existem escolas que optam por substituir adventista em seu nome por cristã ou simplesmente remover totalmente a palavra.

É difícil comentar qual abordagem é melhor, e a localização da escola certamente impactaria na decisão. Alguns argumentam que se afastar do “cerne” do adventismo é uma traição à igreja e que as escolas que optam por diluir a mensagem adventista estão perdendo o objetivo da educação adventista. Outros se opõem a isso questionando qual é realmente o ponto crucial do adventismo. Certamente, eles protestam, nossa igreja é mais do que apenas uma confusão de normas culturais antiquadas.

Esses assuntos levantam várias questões e continuarão a fazê-lo à medida que o mundo é impactado por mudanças sísmicas econômicas, políticas, religiosas e sociais. O que está no cerne da educação adventista? É importante ser peculiar? Ou isso a torna meramente exclusiva? Qual é o melhor caminho? Educadores podem argumentar que a mudança de cultura dentro da Igreja Adventista não é uma questão da escola, mas da igreja. A liderança da igreja reconhece essa mudança e entende as ramificações que ela tem na escolha da escola e da matrícula? Os membros da igreja deveriam e irão encontrar o caminho de volta ao meio?

Conclusão

Os resultados deste estudo parecem indicar que a identidade cultural, de fato, desempenha um papel significativo na escolha da escola. Por meio de várias análises e correlacionando uma série de chaves variáveis, fica claro que a identidade cultural de um pai afeta a escolha da escola de uma infinidade de maneiras. Essas descobertas a grosso modo certamente abrem a porta para examinar quais fatores têm um efeito mais forte na escolha da escola além da própria escola simplesmente. Como evidenciado pelos dados, o declínio de matrículas em escolas adventistas e outras escolas religiosas na América pode estar relacionado a uma mudança na cultura religiosa e como os membros identificam e vivem a cultura de sua denominação. E, embora possa haver vários outros fatores a serem considerados em todo o mundo, incluindo mais recentemente a pandemia de Covid-19, tanto os educadores quanto os administradores da igreja podem dar atenção a essas descobertas e considerar as implicações da cultura da igreja em seus respectivos ministérios.


Este artigo foi revisado por pares.

A parte 1 deste artigo apareceu na edição de julho a setembro de 2020 da Revista Educação Adventista® e está disponível em https://www.journalofadventisteducation.org/2020.82.3.5. 

Aimee Leukert

Aimee Leukert, PhD, é professora associada de Currículo e Instrução na Universidade La Sierra, Riverside, Califórnia, Estados Unidos. Educadora do sistema escolar adventista por mais de 15 anos, a Dra. Leukert lecionou nos níveis elementar, acadêmico e universitário e também atuou como diretora na Associação do Sul da Califórnia. Seu trabalho no Centro de Pesquisa sobre Educação Adventista permitiu que ela compartilhasse sua paixão pelo ensino por meio de diferentes canais, incluindo ajudar a Força-Tarefa de Educação da DNA e lançar Embaixadores para a Educação Cristã Adventista (Ambassadors for Adventist Christian Education - AACE), uma organização projetada para recrutar, organizar e apoiar voluntários para escolas do ensino fundamental e médio em toda a DNA.

Citação recomendada:

Aimee Leukert, “Escolhas adventistas: a relação entre cultura e educação adventista - Parte 2,” Revista Educação Adventista 82:4 (outubro a dezembro de 2020). Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2020.82.4.3.

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Os dados demográficos deste estudo estão descritos em detalhes na Parte 1 deste artigo. Consulte https://www.journalofadventisteducation.org/2020.82.3.5.
  2. A renda familiar anual relatada neste estudo reflete as médias dos entrevistados neste estudo. Para contexto adicional, veja os dados do estudo de Sahlin e Richardson, encomendado pela Divisão Norte-Americana, que relatou uma renda familiar anual de US$25.000 ou menos para aproximadamente 40% dos lares adventistas. Para 30% das famílias adventistas, a renda anual variou de US$25.000 a US$49.999. Para 24%, esse intervalo era de US$50.000 a US$99.999; e, para 7%, essa renda era de US$100.000 ou mais (Monte Sahlin e Paul Richardson, Adventistas do Sétimo Dia na América do Norte: Um Perfil Demográfico [Milton Freewater, Oregon: Center for Creative Ministry, 2008], 19-21). Disponível em: http://circle.adventist.org/files/icm/nadresearch/NADDemographic.pdf.    
  3. Neste estudo, uma “escola não adventista” pode ser uma escola pública, uma escola particular não religiosa ou uma escola paroquial particular.
  4. Isso não leva em consideração a disponibilidade de escolas adventistas em várias Uniões, o que pode significar que os pais escolhem o ensino domiciliar.
  5. Jonathan Schwarz e David Sikkink, Blinded by Religion? Religious School Graduates and Perceptions of Science in Young Adulthood (South Bend, Indiana: University of Notre Dame, 2016). Disponível em: https://www.cardus.ca/research/education/reports/blinded-by-religion-religious-school-graduates-and-perceptions-of-science-in-young-adulthood/.
  6. Center for Adventist Research, “100 Reasons for Adventist Education” (2020). Disponível em: https://crae.lasierra.edu/100-reasons/. 
  7. General Conference of Seventh-day Adventists, “Strategic Issues Emerging from Global Research, 2011-2013,” Reach the World: General Conference Strategic Plan 2015-2020: 7 (Item 2). Dados de cinco grandes estudos globais iniciados em 2011 mostram que “menos da metade de todos os adventistas em todo o mundo experimentaram qualquer educação denominacional, e muitos pastores limitaram a educação adventista” (p. 7); Roger Dudley and Petr Činčala, “The Adventist Pastor: A World Survey.” Uma pesquisa conduzida pelo Institute of Church Ministry at Andrews University’s Seventh-day Adventist Theological Seminary, maio de 2013. Disponível em: http://www.adventistresearch.org/sites/default/files/files/The%20Adventist%20Pastor%20A%20World%20Survey%20.pdf; George R. Knight, “Why Have Adventist Education?” The Journal of Adventist Education 67:5 (verão de 2005): 6-9. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/jae/en/jae200567050604.pdf.   
  8. Nome usado com permissão. Jeannie Leiterman, comunicação pessoal, 2018.
  9. Jon Elster, “Rationality and Social Norms,” European Journal of Sociology/Archives Européennes de Sociologie/Europäisches Archiv für Soziologie 32:1 (1991): 109-129.
  10. No momento em que este artigo foi escrito, o impacto da Covid-19 nos sistemas escolares, finanças da igreja e renda familiar anual ainda não estavam determinados, mas certamente sofrerão um impacto.