Leni T. Casimiro • John Wesley Taylor V

Nutrindo a fé por meio do aprendizado on-line

Parte 1: Planejando a integração da fé

O aumento na aprendizagem on-line resultante da pandemia Covid-191 é apenas uma escalada, embora dramática, de uma tendência global crescente no uso de modalidades on-line ou combinadas na educação.2 A aprendizagem on-line certamente apresenta vantagens significativas, como acessibilidade aprimorada, um cronograma mais flexível (incluindo o potencial para aprendizagem individualizada) e uma perspectiva mais global, em termos de interações com professores e colegas.

No entanto, as modalidades on-line também podem representar desafios significativos.3 Para os alunos, o aprendizado on-line pode exigir maior automotivação, melhores estratégias de gerenciamento de tempo e até mesmo novas habilidades tecnológicas. Para os professores, a mudança para a educação on-line pode envolver dificuldades com a transição de conteúdos e atividades de aprendizagem para um ambiente virtual, bem como o desafio de motivar o envolvimento dos alunos, estimular a colaboração, manter-se conectado com os alunos e superar as demandas técnicas das ferramentas de ensino on-line.

Talvez um dos maiores desafios, entretanto, para os educadores adventistas seja a questão da integração da fé. Como podemos moldar o ambiente de aprendizagem on-line para nutrir a fé dos alunos? Como podemos fornecer experiências on-line que revelem, claramente, uma identidade adventista do sétimo dia e alinhamento da missão?

Conceitos fundamentais na educação adventista

Seja on-line ou presencial, quatro pedras angulares são fundamentais para a educação adventista. São elas:

  1. Desenvolvimento da pessoa completa. Ellen White, descrevendo as facetas da verdadeira educação, apontou para o desenvolvimento harmonioso das “faculdades físicas, mentais e espirituais”4 a fim de preparar o estudante para uma vida de serviço, um componente-chave da arena social. Essa educação multifacetada é destacada no desenvolvimento de Jesus enquanto Ele estava na terra: Jesus “ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2:52, NVI).5 Da mesma forma, o aluno, como o produto da aprendizagem on-line, deve estar envolvido em uma experiência da pessoa completa pelo menos nessas quatro dimensões principais (Figura 1).
  2. Reconhecimento de que toda verdade é a verdade de Deus. As Escrituras afirmam que “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai” (Tg 1:17) e que “a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1:17). Provérbios 2:6 afirma ainda que “Porque o Senhor dá a sabedoria, e da sua boca vem a inteligência e o entendimento”. Reconhecer a Deus como a fonte de toda a verdade6 é um paradigma de sustentação na educação adventista. Consequentemente, os educadores adventistas devem buscar intencionalmente conectar todo o conhecimento à sua Fonte, e os alunos devem estar cientes dessa relação.
  3. Educação para a eternidade. Às vezes, os professores se voltam a uma visão restrita do que os alunos podem se tornar e se concentram apenas em ajudá-los a passar na matéria, ou em garantir que eles se formem. Às vezes, essa visão é expandida pelo empenho em preparar os alunos para serem bem-sucedidos no contexto mais amplo da vida – em suas profissões, no relacionamento com amigos e família e como cidadãos responsáveis. A educação adventista, entretanto, prevê um escopo mais amplo: que “a obra da educação e da redenção são uma só”.7 Consequentemente, a prioridade final da educação é preparar os alunos para serem candidatos ao Céu.
  4. Integração fé e ensino. Ellen White escreveu: “Os alunos de nossas escolas e todos os nossos jovens devem receber uma educação que os fortaleça na fé.”8 Esse processo de integração da fé9 é bíblico. “Portanto, quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para glória de Deus” (1Co 10:31). Dado que a glória de Deus é encontrada nos atributos de Seu caráter (Êx 33:18, 19; 34:5-7), nosso papel como educadores é apresentar uma imagem clara e atraente de quem Deus realmente é. Paulo vai além: “E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus” (Cl 3:17). À medida que damos nossas aulas e interagimos com nossos alunos, nós nos esforçamos para dizer o que Ele diria e fazer o que Ele faria.10

Embora cada um desses conceitos fundamentais apresente desafios especiais (bem como oportunidades) no ensino e aprendizagem on-line, neste artigo, nós (os autores) nos concentramos na quarta pedra angular: como nutrir a fé em contextos on-line. Reconhecemos, no entanto, que os quatro conceitos estão inter-relacionados. Consequentemente, ao mesmo tempo em que destacaremos a integração da fé, também abordaremos o desenvolvimento da pessoa como um todo, paradigmas bíblicos e nosso propósito de educar para a eternidade.

Um plano para a integração da fé

A integração da fé, uma construção central na educação cristã, foi amplamente desenvolvida na literatura, tanto em termos de sua base bíblica e estrutura conceitual, como também em sua implementação em uma variedade de ambientes (ver Quadro 1). Embora uma perspectiva de fé seja certamente vital em ambiente de aprendizagem presencial tradicional, é crucial nutrir efetivamente a fé ao envolver os alunos no aprendizado on-line. Quando professores em escolas adventistas que recentemente fizeram a transição para o ambiente de aprendizagem on-line descrevem suas experiências, eles identificam o elemento de integração da fé como um dos mais desafiadores de articular e implementar.11

O ensino eficaz em qualquer modalidade requer planejamento e organização, não apenas em termos de preparação de aulas, mas também na concepção de todo o ambiente de aprendizagem. O planejamento requer a compreensão da natureza dos alunos e seu contexto e saber o que precisa ser ensinado e como deve ser ensinado para que os objetivos da instrução sejam alcançados, levando ao aprendizado do aluno. A aprendizagem é um processo pessoal, mas os professores podem facilitar a aprendizagem por meio de uma preparação cuidados.

A natureza do ambiente de aprendizagem on-line, no entanto, com professores e alunos separados por tempo e/ou espaço e sua dependência da tecnologia, torna o planejamento do ensino on-line bastante desafiador. É comum que novos professores on-line perguntem: Como faço para ensinar esta lição a distância? Como posso ter certeza de que eles estão aprendendo? A necessidade de se tornar competente na transmissão da aprendizagem on-line – instrucional ou técnica – não apenas requer uma maior preparação, mas também uma preparação diferente.

Essa visão de futuro permite maior intencionalidade e capacidade de resposta aprimorada ao que provavelmente acontecerá na sala de aula on-line, garantindo assim uma maior probabilidade de atingir os objetivos de aprendizagem. Consequentemente, para que a fé e ensino sejam integrados com sucesso, os professores devem intencionalmente fazer planos para que isso ocorra.

O planejamento intencional para a integração da fé começa com (1) design instrucional e a preparação do (2) programa do curso. Estes, por sua vez, se refletem na apresentação de (3) módulos do curso e materiais de aprendizagem. De igual importância é (4) a preparação pessoal do professor, que deve procurar descobrir como Deus e a verdade de Deus existem no curso de estudos que o professor está ensinando.

1. O design instrucional

Embora haja muitas etapas envolvidas no planejamento de instrução para contextos on-line, este artigo se concentrará primeiro no design instrucional, que pode ser definido como "a arte e a ciência de criar um ambiente instrucional e materiais que trarão o aluno do estado de não ser capaz de realizar certas tarefas ao estado de ser capaz de realizar essas tarefas”.12 Em suma, é um processo de fazer com que o aprendizado aconteça.

Os professores já tinham que ser intencionais sobre o projeto do curso ao criar planos de aula para as aulas presenciais. Mas o ensino on-line, seja síncrono ou assíncrono, exige que uma maior ênfase seja colocada na fase inicial de planejamento. Enquanto os professores presenciais muitas vezes podem fazer ajustes "durante o voo” quando algo foi perdido no processo de elaboração do projeto, isso talvez seja mais difícil na sala de aula on-line. O design instrucional permite que os professores on-line antecipem melhor as ambiguidades e as resolvam antes que ocorram. Em seguida, dá-lhes a oportunidade de escolher cuidadosamente a forma mais eficaz de abordar as aulas.13

O design instrucional, no entanto, deve ser consistente com as filosofias e crenças subjacentes do instrutor sobre o processo de aprendizagem. Se o professor acredita que o verdadeiro aprendizado não pode ser alcançado apenas por saber o que está contido no livro, mas requer uma vida transformada, então o projeto da instrução incorporará conteúdo e atividades que conduzam os alunos a Deus.

Como é um design instrucional integrado de fé? Muitos modelos de design instrucional14 estão disponíveis na literatura, mas a questão mais importante pode ser como esses modelos são usados. As principais perguntas que os professores devem fazer durante um processo de design instrucional que integra a fé incluem as seguintes:

  • Como meus alunos podem obter uma perspectiva cristã deste curso?
  • Como meus alunos podem desenvolver um relacionamento mais forte com Deus e uns com os outros na aula?
  • Como este curso pode apoiar o desenvolvimento pessoal integral de meus alunos?
  • Como posso incentivar meus alunos a se envolverem na igreja?
  • Que atividades posso indicar aos meus alunos para envolvê-los na missão de Cristo?

Apoiar o desenvolvimento pessoal integral de alunos em uma aula on-line pode não ser fácil. A distância geográfica entre os membros da classe, a natureza autodirigida do aprendizado on-line e a falta de equilíbrio entre o papel da tecnologia nas conexões da classe podem tornar a influência do professor menos evidente e o impacto do curso mais incerto. Para que o desenvolvimento da pessoa como um todo ocorra na sala de aula on-line, os professores devem planejar atividades intencionalmente que cubram vários aspectos do desenvolvimento humano.

Um exemplo de um modelo de projeto de curso que enfatiza os fundamentos bíblicos do curso é o “Biblical Foundation Course Design Model15 (Modelo de Projeto de Curso de Base Bíblica), de Gettys e Plemons. Nesse modelo, o desenvolvimento do curso começa com a determinação dos conceitos relevantes do curso e suas conexões com a Bíblia, criando assim a base bíblica do curso. Tais princípios bíblicos definem os resultados da aprendizagem (o que os alunos precisam saber e fazer), que da mesma forma, definem as atividades de ensino e/ou aprendizagem do curso e o tipo de avaliações a serem realizadas.

Outro exemplo de modelo de projeto de curso que integra especificamente o engajamento da missão é o Modelo de Integração da Missão (ver Figura 2). Esse modelo consiste em quatro abordagens: adoração (discutida com mais detalhes na Parte 2), cosmovisão, formação de caráter e serviço. Por meio da adoração, os alunos são conduzidos a Jesus como o modelo para atos de serviço e, por meio de lições cuidadosamente planejadas, percebem o objetivo da missão em todos os campos de estudo (cosmovisão). Então, por meio de interações e reflexões em classe, eles são motivados a responder (formação de caráter) a fim de fazer a vontade de Deus; e finalmente, como resultado principal, envolver-se em atos específicos de serviço.16

2. O programa do curso

Agora nos voltamos para um instrumento principal que resulta do design instrucional: o esboço do curso ou programa de estudos. À medida que os professores se esforçam para nutrir o desenvolvimento espiritual, eles devem considerar pelo menos quatro elementos:

1. Perspectiva. A cosmovisão bíblica fornece uma perspectiva distinta para cada assunto. Os contornos desse paradigma, por sua vez, influenciam as crenças e prioridades dos professores à medida que interagem com uma disciplina e suas aplicações (para alguns exemplos de uma perspectiva bíblica dentro de uma disciplina acadêmica, ver Quadro 2).

Para delinear a perspectiva de fé que os cristãos trazem para a disciplina, os professores devem incluir uma seção específica no plano de estudos do curso, talvez intitulada “Perspectiva do curso”, na qual os preparadores do curso apresentam elementos de cosmovisão bíblica que formam a base do curso. Esses elementos da cosmovisão bíblica podem então ser estendidos através dos tópicos da aula (ver exemplos nas Figuras 3 e 4).

2. Objetivos. Os objetivos ou metas do curso devem ser escritos com o fim em mente – o que os professores cristãos esperam que seus alunos saibam, sejam capazes de fazer e ser (atitudes, disposições e valores) até o final do curso. Como funcionários de escolas cristãs com uma missão especial para este mundo, devemos ter certeza de que esses resultados de aprendizagem estão alinhados com a missão da escola e da igreja. Essas metas de curso tornam-se a base de objetivos específicos de aprendizagem na unidade ou nos planos de aula.

3. Livros didáticos. Os educadores cristãos devem tornar as Escrituras relevantes, afirmando a pertinência da Palavra. Isso se baseia em duas premissas: (a) a Palavra de Deus fala com relevância para cada dimensão da vida e (b) toda disciplina deve se conectar com a vida de professores e alunos de maneiras significativas. A Palavra de Deus, portanto, deve ser significativa para cada disciplina acadêmica. Davi escreveu: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos” (Sl 119:105).

À medida que os professores buscam uma compreensão cuidadosa das Escrituras em relação à vida e ao aprendizado, eles devem aplicar os princípios bíblicos e incorporar a Bíblia como um texto-chave em cada curso, como núcleo para cada aspecto estudado (ver Figura 5).17 Isso vai além de simplesmente listar a Bíblia como uma das principais referências, embora isso por si só transmita uma mensagem importante. Mais importante ainda, inclui a identificação e incorporação de passagens bíblicas que formam conexões naturais com os tópicos estudados.18

4. Requisitos. Embora existam muitas maneiras de as atividades de aprendizagem on-line e as atribuições do curso poderem ser configuradas para nutrir a fé, nós, os autores deste artigo, iremos explorar uma delas: envolver os alunos on-line na aprendizagem de serviço.19

O serviço é uma construção bíblica. Paulo instrui: “Sirvam uns aos outros mediante o amor” (Gl 5:13, NVI), enquanto Pedro aconselha: “Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros” (1Pe 4:10, NVI). Paulo observa que o próprio Jesus afirmou o assunto de forma sucinta: “Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20:35, ARA). No contexto escolar, Ellen White observou: “[Os alunos] não devem aguardar uma época, depois do termo escolar, quando venham a fazer uma grande obra para o Senhor, mas estudar a maneira por que, durante a vida estudantil, tomem com Cristo o jugo em abnegado serviço pelos outros.”20

O aprendizado de serviço não envolve simplesmente serviço voluntário ou experiências de campo. Em vez disso, é a interseção do conteúdo do curso, que significa serviço e reflexão crítica (ver Figura 6).21 Este processo de aprendizagem de serviço é composto de cinco estágios principais: investigar, preparar, agir, refletir e celebrar.22 Aqui estão alguns exemplos de atividades do curso de aprendizagem de serviço, em níveis crescentes de série, que poderiam ser incluídos em um curso on-line:

  • Arte da linguagem: escreva uma nota de agradecimento a um voluntário da comunidade ou uma carta curta a uma pessoa idosa que não seja membro da família.
  • Educação Física: pratique alguma forma de atividade física, como uma caminhada beneficente, para arrecadar dinheiro para ajudar a pagar a conta médica de alguém.
  • Estudos Sociais: ajude sua comunidade a preservar os recursos naturais, talvez limpando a vizinhança e coletando materiais recicláveis. Como alternativa, escreva um artigo de jornal ou prepare um videoclipe sobre poluição ou reciclagem.
  • Economia: participe de um projeto para beneficiar aqueles que estão economicamente desfavorecidos, como uma campanha de alimentos para reabastecer uma despensa comunitária de alimentos para os necessitados.
  • Anatomia Humana: sirva em uma comunidade independente, ou em um centro de assistência e cuidados para adultos e observe e analise o impacto do envelhecimento.
  • Multimídia: crie um documentário em vídeo de um residente em uma instituição local de idosos, talvez destacando algumas de suas experiências de vida, que você então dará para a família do residente.
  • Pedagogia Vocal: Ofereça uma aula de canto gratuita para um aluno de uma escola pública de ensino médio.
  • Saúde Ambiental: Visite agências em sua comunidade para observar os métodos de descarte de resíduos; em seguida, faça pesquisas sobre como esse serviço pode ser melhorado.
  • Supervisão da instrução: conduza uma pesquisa de ação para abordar um problema específico em uma escola com a qual você esteja familiarizado.
  • Negócios: Auxilie o proprietário de uma pequena empresa local na preparação de declarações financeiras e/ou conduza um estudo de mercado para melhorar os negócios.

O objetivo, ao ensinarmos on-line, deve ser incluir em cada disciplina experiências que envolvam os alunos no aprendizado de serviço.

3. Os módulos do curso

A preparação e o projeto dos módulos do curso são onde o design instrucional é mais claramente refletido. Como Osborne observa, “a primeira impressão que um aluno recebe de um curso on-line está diretamente relacionada à preparação que ocorre antes de disponibilizar o curso aos alunos”.23 Em um curso on-line, a página do curso e seus módulos compõem a sala de aula virtual onde ocorrem as atividades de aprendizagem.

Cada módulo de curso, unidade de estudo ou plano de aula deve incorporar uma base bíblica, garantindo que as respostas às cinco perguntas-chave do design instrucional (apresentadas acima) sejam articuladas em aulas específicas. Cada módulo deve ser estruturado de uma forma que forneça um ambiente de aprendizagem confortável, no qual a obtenção dos resultados do curso, particularmente o desenvolvimento da fé, tenham importância prioritária. Os próprios módulos do curso apresentam as lições, tanto o conteúdo quanto as atividades de aprendizagem, usando estratégias de integração de fé apropriadas.

Frequentemente, ao desenvolver objetivos para uma unidade ou lição, por exemplo, os professores enfocam os assuntos que os alunos devem saber e as competências que eles devem ser capazes de demonstrar. Embora ensinar para compreensão e domínio de habilidades seja vital, os alunos são enganados, a menos que o domínio afetivo, a questão de ser – isto é, atitudes, disposições e valores – também sejam incorporados.

Por exemplo, em uma aula de ciências de nível primário sobre o tópico de mamíferos, o professor pode escrever um objetivo para cada um dos domínios da seguinte forma:

  • Saber: o aluno definirá as características essenciais de um mamífero.
  • Fazer: o aluno será capaz de diferenciar exemplos de mamíferos e não mamíferos.
  • Ser: o aluno evidenciará bondade para com os animais como criação de Deus.

Sobre o tema do sistema solar:

  • Saber: o aluno indicará os nomes dos planetas em nosso sistema solar.
  • Fazer: o aluno desenhará uma representação do sistema solar, rotulando os planetas corretamente.
  • Ser: o aluno demonstrará apreciação pela maneira como Deus criou o sistema solar, ou seja, colocando a Terra na distância adequada do Sol para sustentar a vida.

Por abordar valores e atitudes, o domínio afetivo abrange o objetivo da formação do caráter. Com relação a esse propósito, Ellen White escreveu: “A construção do caráter é a obra mais importante já confiada aos seres humanos; e nunca antes seu estudo diligente foi tão importante como agora.”24 Ao planejar o ensino on-line, os professores adventistas devem incorporar objetivos afetivos que reflitam os valores bíblicos e procurar ajudar os alunos a formar um caráter cristão.25

4. Características de facilitadores de cursos cristãos on-line eficazes

A espiritualidade do professor pode muito bem ser o fator determinante na eficácia da integração da fé em seu curso. Para ser verdadeiramente nutridor da fé, a preparação do curso requer preparação espiritual pessoal. Os professores devem se identificar e internalizar os fundamentos bíblicos de sua disciplina, particularmente no que se refere à perspectiva adventista.

Um estudo recente descobriu que existem sete características de um facilitador de curso cristão eficaz on-line – ele demonstra valores morais e cristãos, usa estratégias eficazes de facilitação de curso on-line, fornece feedback útil, comunica-se com eficácia, usa avaliações autênticas, planeja bem e motiva os alunos.26 A demonstração de valores morais e cristãos foi evidenciada pelas seguintes características: ele é amigável, não julga, é piedoso, compassivo e apoiador, integra a fé e o ensino nos devocionais e ao longo do curso, ora com e pelos alunos e dá uma segunda chance nas tarefas.

Consequentemente, professores, diretores e outros administradores devem se engajar na autorreflexão sobre a integração efetiva da fé em suas próprias vidas.

Integração de fé por projeto

Seja em uma modalidade on-line ou em um ambiente educacional mais tradicional, a fé deve se tornar tangível e a espiritualidade deve se tornar real em todas as escolas cristãs. Isso ocorre quando a experiência educacional é centrada em Cristo, baseada na Bíblia, relacionada ao serviço e dirigida ao Reino. Isso ocorre onde professores e administradores intencionalmente criam experiências de aprendizagem on-line que são:

  • Holísticas. Cada aspecto da experiência de um aluno na escola on-line, tanto em toda a escola como em nível de classe, deve nutrir a fé. Isso inclui serviços de apoio, relacionamentos não apenas dentro das classes, mas também com a família escolar em geral, e a criação e cultivo intencional de uma comunidade de fé. A formação de uma comunidade de fé dentro do contexto de ensino-aprendizagem complementa as conquistas cognitivas e sociais obtidas através da comunidade, conforme comprovado, por exemplo, por meio do modelo de Comunidade de Investigação (CoI).27 Nas modalidades on-line, as comunidades de fé podem ser desenvolvidas ainda mais por meio de devocionais de classe bem planejados, capelas on-line, semanas de orações e outras atividades. Isso será discutido mais adiante na Parte 2 e complementa as realizações cognitivas e sociais obtidas.
  • Progressivas. O design da aula on-line deve promover e conduzir progressivamente ao desenvolvimento pessoal integral dos alunos. Ele começa colocando Cristo no centro do aprendizado (por meio da adoração ou atividades devocionais), para que os alunos possam experimentar fé e submissão à Sua vontade. Então, ao abordar os conteúdos por meio de lições cuidadosamente preparadas e integradas na fé, os alunos começam a perceber a operação de Deus ao longo de suas lições. Eles serão então levados a reagir fazendo Sua vontade e a tomar decisões e compromissos para a vida toda (como pode ser evidenciado em discussões em classe e diários de reflexão) e, finalmente, a se envolver realmente na missão de Deus para o mundo (por meio de projetos de classe, trabalho de campo, serviço comunitário, etc.).
  • Pessoais. A atitude do professor é fundamental para alcançar a fé e a integração da aprendizagem na sala de aula on-line. Como criador do ambiente de aprendizagem, ele fornece o toque pessoal na integração da fé em todo o plano de instrução – dos objetivos ao conteúdo, às atividades de aprendizagem e aos resultados da instrução. Por causa do aparente isolamento devido à distância física entre os membros da classe, o professor atua como pivô da comunidade de aprendizagem, dando a cada aluno oportunidade para conexões, expressões, reflexões e prática – tudo direcionado ao desenvolvimento da fé e ao aprendizado.

Com base em conceitos fundamentais que fornecem uma identidade clara para a educação adventista do sétimo dia, este artigo explorou diretamente a integração da fé e do aprendizado, particularmente no que se refere a contextos on-line. Ao cumprir nosso objetivo de descrever como nutrir a fé dos alunos on-line, os autores examinaram várias estratégias para planejar experiências de aprendizagem que promovem o desenvolvimento espiritual. Estes incluíram: (1) design da instrução, (2) a configuração do programa do curso, (3) o desenvolvimento dos módulos e materiais do curso, e (4) as características de facilitadores de curso on-line eficazes.

No artigo de conclusão desta série de duas partes, exploraremos mais detalhadamente os assuntos relacionados à implementação desses conceitos. A parte 2 deste artigo aparecerá na edição de outubro a dezembro de 2020 da Revista Educação Adventista e explorará em mais detalhes a implementação da integração da fé.


Este artigo foi revisado por pares.

Leni T. Casimiro

Leni T. Casimiro, PhD, es directora de AIIAS en el modelo en línea y profesora de currículo e instrucción y de aprendizaje en línea en el Instituto Internacional Adventista de Estudios Avanzados, en Silang, Cavite, Filipinas.

John Wesley Taylor V

John Wesley Taylor V, PhD, EdD, atua como diretor associado de Educação na Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia desde 2010. Obteve um PhD em educação pela Andrews University e um EdD em Psicologia Educacional pela University of Virginia (Charlottsville, Virgínia). Este artigo é baseado em uma apresentação na Conferência sobre Identidade Adventista, de 13 a 15 de outubro de 2022, na Universidade Andrews. Ele pode ser contatado em [email protected].

Citação recomendada:

Leni T. Casimiro e John Wesley Taylor V, “Nutrindo a fé por meio do aprendizado on-line. Parte 1: Planejando a integração da fé,” Revista Educação Adventista 82:3 (julho a setembro de 2020). Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2020.82.3.2

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Mary Burns, “Will the Covid-19 Pandemic Speed a Global Embrace of Online Learning? ICTWorks (2020). Disponível em: https://www.ictworks.org/covid19-digital-response-online-learning/#.Xx79e-d7lpg; Romina Ederle, “New Udemy Report Shows Surge in Global Online Education in Response to Covid-19,” Businesswire (2020). Disponível em: https://www.businesswire.com/news/home/20200430005243/en/New-Udemy-Report-Shows-Surge-lobalOnline; Cathy Li e Farah Lalani, “The Covid-19 Pandemic Has Changed Education Forever,” World Economic Forum (2020). Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2020/04/coronavirus-education-global-covid19-online-digital-learning/.
  2. Ilker Koksal, “The Rise of Online Learning,” Forbes (2 de maio de 2020). Disponível em: https://www.forbes.com/sites/ilkerkoksal/2020/05/02/the-rise-of-online-learning/#893558672f3c; Doug Lederman, “Online Education Ascends,” Inside Higher Ed (7 de novembro de 2018). Disponível em: https://www.insidehighered.com/digital-learning/article/2018/11/07/new-data-online-enrollments-grow-and-share-overall-enrollment; Julia E. Seaman, I. Elaine Allen e Jeff Seaman, Grade increase: Tracking Distance Education in the United States (Babson Park, Mass.: Babson Survey Research Group, 2018). Disponível em: https://www.onlinelearningsurvey.com/reports/gradeincrease.pdf.
  3. Jordan Friedman, “Tackle Challenges of Online Classes Due to Covid-19,” U.S. News and World Report (4 de maio de 2020). Disponível em: https://www.usnews.com/education/best-colleges/articles/how-to-overcome-challenges-of-online-classes-due-to-coronavirus; Jenna Gillett-Swan, “The Challenges of Online Learning: Supporting and Engaging the Isolated Learner,” Journal of Learning Design 10:1 (Special Issues: Business Management, 2017): 20-30; Dennis Pierce, “Five Major Online-learning Challenges - and How to Solve Them,” E-campus News (22 de janeiro de 2019). Disponível em: https://www.ecampusnews.com/2019/01/22/5-major-online-learning-challenges-and-how-to-solve-them-pt-1/.
  4. Ellen G. White, Educação (Tatuí, São Paulo, CPB, 2003), p. 30
  5. Salvo indicação em contrário, todas as passagens bíblicas neste artigo são citadas da versão Almeida Revista e Atualizada (ARA).
  6. Este conceito é ainda desenvolvido por Arthur Holmes em seu livro All Truth Is God’s Truth (Grand Rapids, Mich.: Eerdmans, 1977).
  7. White, Educação, 30. A Escritura também destaca esta conexão: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6:47). “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10:14).
  8. Id., Manuscrito 106, 1905.
  9. Humberto Rasi definiu a integração de fé e ensino da seguinte forma: “Um processo deliberado e sistemático de abordar todo o empreendimento educacional de uma perspectiva bíblica. Seu objetivo é garantir que os alunos sob a influência de professores cristãos e quando saírem da escola tenham internalizado os valores bíblicos e uma visão de conhecimento, vida e destino que seja centrada em Cristo, orientada para o serviço e dirigida para o Reino” (“Worldviews: Contemporary Culture and Adventist Education” [Artigo não publicado, 1993], 10).
  10. O fundamento bíblico da integração da fé é explorado mais completamente em John Wesley Taylor V, “A Biblical Foundation for Integrating Faith and Learning,” Revista Educação Adventista 74:5 (verão de 2012): 8-14. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/jae/en/jae201274050807.pdf
  11. Correspondência pessoal com os autores. Veja também o artigo de Bonnie Iversen “Transitioning to Online School During the Covid-19 Pandemic: San Gabriel Academy Educators Share Recommendations for Good Practice,” The Journal of Adventist Education 82:2 (abr.-jun./2020): 42-47.
  12. George Siemens, “Instructional Design in E-learning” (2002). Disponível em: https://eddl.tru.ca/wp-content/uploads/2018/12/instructional-design-in-e-learning-Siemens.pdf, par. 5.
  13. Ibid. Nota: Os professores, especialmente aqueles que ensinam on-line pela primeira vez, precisarão de ajuda e treinamento enquanto planejam este tipo de instrução. Os administradores podem ajudar sendo intencionais no fornecimento de assistência de tecnologia externa e treinamento para professores sobre como não apenas fornecer instrução em uma modalidade on-line, mas também antecipar e resolver problemas potenciais.
  14. ADDIE Model. Disponível em: https://www.instructionaldesign.org/models/addie/; Dick e Carey Model. Disponível em: https://educationaltechnology.net/dick-and-carey-instructional-model/; Gagne Model. Disponível em: https://www.mindtools.com/pages/article/gagne.htm; Rapid Prototyping. Disponível em: https://www.instructionaldesign.org/models/iterative_design/rapid_prototyping/.
  15. Biblical Course Design Model (n.d.). Disponível em: https://www.southern.edu/administration/cte/BiblicalFoundations/BiblicalCourseDesignModel.html.
  16. Leni Casimiro, “Is Mission Possible Online? Exploring Mission-oriented Online Course Designs.” In Adventist Online Education: Realizing the Potential, Janine Lim e Anthony Williams, eds. (Cooranbong, New South Wales, Australia: Avondale Academic Press, 2018), 19-36.
  17. Ellen White escreveu: “A Bíblia deve ser tomada como fundamento do estudo e do ensino” (A Ciência do Bom Viver [Tatuí, S.P.: Casa Publicadora Brasileira, 2006], 401). Na mesma linha, Martinho Lutero afirmou: “Temo muito que as universidades se revelem as grandes portas do inferno, a menos que trabalhem diligentemente em explicar as Sagradas Escrituras e gravá-las no coração dos jovens. Não aconselho ninguém a colocar seu filho onde as Escrituras não reinam em primeiro lugar. Toda instituição em que os homens não estão incessantemente ocupados com a Palavra de Deus deve se tornar corrupta” (citado de J. H. Merle d'Aubigné, The History of the Reformation of the Sixteenth Century, b. 6, ch. 10).
  18. Para obter um exemplo dessa abordagem em matemática, ver John Wesley Taylor V, Loella Lapat e Frederick Oberholster, “Strategies for Integrating Faith in Mathematics,” The Journal of Adventist Education 63:5 (verão de 2001): 9-11. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/jae/en/jae200163050903.pdf.
  19. Isso coincide com o objetivo e missão oficiais da educação do sétimo adventista, que é “preparar as pessoas para uma vida útil e cheia de alegria, promovendo a amizade com Deus, o desenvolvimento de toda a pessoa, valores baseados na Bíblia e serviço abnegado de acordo com a missão adventista do sétimo Dia para o mundo ”(Uma Declaração da Filosofia Educacional Adventista do Sétimo Dia [2001]). Disponível em: https://education.adventist.org/wp-content/uploads/2017/10/A_Statement_of_Seventh-day_Adventist_Educational_Philosophy_2001.pdf.
  20. Ellen G. White, Conselhos aos professores, pais e estudantes (Tatuí, S.P.: Casa Publicadora Brasileira, 2000): 547.
  21. O tópico de aprendizado de serviço é expandido em John Wesley Taylor V, “Service: The Fourth Dimension in Adventist Education,” Revista Educação Adventista 75:3 (fev.-mar./2013): 4-11. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/jae/en/jae201375030408.pdf.
  22. Uma explicação mais detalhada dessas etapas, desenvolvida pelo Search Institute e pelo Interfaith Youth Core, pode ser encontrada no site “Inspired to Serve”. Disponível em: http://www.inspiredtoserve.org.
  23. C. Damon Osborne, “Best Practices in Online Teaching” (81-90). In Best Practices of Online Education: A Guide for Christian Higher Education, Mark A. Maddix, James R. Estep e Mary E. Lowe, eds. (Charlotte, N.C.: Information Age Publishing, 2012), 82.
  24. Ellen White declarou ainda: “A educação e o preparo dos jovens é uma obra importante e solene. O grande objetivo a ser alcançado deve ser o desenvolvimento adequado do caráter” (Christian Education [Battle Creek, Mich.: International Tract Society, 1893], 24).
  25. As Escrituras, por exemplo, destacam valores e atitudes essenciais: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus” (Mq 6:8). “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5:22, 23).
  26. Safary Wa-Mbaleka, “What Makes an Effective Online Course Facilitator in a Christian Institution?” In Adventist Online Education: Realizing the Potential, 37-59.
  27. Veja, por exemplo, Terry Anderson, “How Communities of Inquiry Drive Teaching and Learning in the Digital Age,” (2017). Disponível em: https://teachonline.ca/sites/default/files/tools-trends/insights/pdf/how_communities_of_inquiry_drive_teaching_and_learning_in_the_digital.pdf; Trudi Cooper e Rebecca Scriven, “Communities of Inquiry in Curriculum Approach to Online Learning: Strengths and Limitations in Context,” Australasian Journal of Educational Technology 33:4 (Agosto de 2017): 22-37; D. Randy Garrison, “Designing a Community of Inquiry,” (2018). Disponível em: http://www.thecommunityofinquiry.org/editorial9.