Perspectivas | Daniel Gonzalez-Socoloske

Por que a natureza é importante

educação adventista do sétimo dia no Antropoceno

Minha primeira exposição à noção de conflito entre as necessidades humanas e o mundo natural ocorreu no 5º ano enquanto eu decidia qual projeto apresentaria na feira de ciências da juventude do município. Meu professor de Ciências sugeriu que eu fizesse uma apresentação sobre a pequena mariposa endêmica1 chamada sátiro de Mitchell (Neonympha mithellii), encontrada em apenas uma dúzia de zonas úmidas no sul de Michigan e no norte de Indiana. Eu gostava de estar na natureza e aprender sobre animais, então decidi seguir sua recomendação.

A questão em discussão era uma proposta do Departamento de Transportes de Michigan de estender a US-31 de Berrien Springs ao norte até a I-94 em Benton Harbor. Isso economizaria aos passageiros cerca de 10 minutos. Muitos motoristas e empresários foram a favor do projeto; no entanto, alguns cidadãos preocupados e grupos de conservação foram contra porque a estrada proposta atravessaria um dos poucos hábitats remanescentes das áreas úmidas da borboleta sátiro de Mitchell. Uma escolha teve que ser feita. A construção começou na década de 1980, mas parou no final da década de 1990 devido a litígios de grupos de conservação.

Lembro-me de visitar, em 1994, o pequeno pântano ao norte de Berrien Springs, onde essas borboletas vivem, armado com uma câmera fornecida pelo meu professor. Não vi nenhuma das mariposas, o que não é surpreendente, porque os adultos dessa espécie ficam fora apenas duas semanas por ano no verão, mas lembro-me de apreciar o hábitat peculiar das zonas úmidas. Não ganhei a feira de ciências naquele ano (ocupei o segundo lugar), mas aprendi uma lição importante sobre as escolhas que fazemos como seres humanos e as possíveis consequências que elas têm sobre os organismos ao nosso redor.

Por que a natureza tem tanta importância? Por que devemos, como indivíduos, como membros de nossa igreja, nosso país, da raça humana, preocupar-nos com a natureza? Se uma pequena borboleta que é visível por apenas duas semanas por ano em um punhado de pântanos se extingue, isso realmente tem importância? Estas perguntas podem parecer grosseiras e injustas, mas, de uma maneira muito real, fazemo-nos muitas perguntas desse tipo todos os dias e as respondemos com nossas escolhas. A vida é feita de escolhas. Algumas são fáceis e relativamente irrelevantes, como escolher o sabor de sorvete que vamos tomar; outras são mais difíceis, como escolher a pessoa certa com quem iremos compartilhar a vida. Algumas são diretas em termos de moralidade; outras não são tão claras.

Meu objetivo neste ensaio é desafiar os educadores adventistas a reexaminar sua relação com a natureza e sua dependência dos benefícios vitais que ela proporciona. Espero comunicar a importância da natureza e que estamos vivendo um momento único em termos de nosso impacto sobre ela. Introduzirei o conceito de ética ambiental e espero convencer os leitores de que, como crentes, é nossa obrigação moral cuidar da natureza e, como educadores adventistas do sétimo dia, é nossa responsabilidade informar nossos alunos sobre o estado atual de nosso planeta e as consequências de nossas escolhas.

Não é preciso ser um ecologista para apreciar a natureza e os benefícios “gratuitos” que ela nos fornece. A natureza não apenas oferece beleza estética, mas também é vital para a nossa sobrevivência, pois fornece o ar que respiramos, a água que bebemos e os alimentos que comemos. Infelizmente, a maioria das pessoas não percebe que a natureza se estabelece em uma rede bastante delicada de interdependência entre organismos e os ambientes em que vivem. Ou seja, nenhum organismo é autossustentável. Todos os organismos dependem de outros organismos para sobreviver. Por exemplo, estima-se que tenhamos tantas células bacterianas quanto células humanas em nosso corpo.2 Dependemos desse bioma humano (a comunidade coletiva de organismos que vivem dentro de nós) para regular nosso sistema imunológico, ajudar a digerir nossos alimentos, produzir certas vitaminas e nos proteger de patógenos causadores de doenças.

Em uma escala maior, aspectos abióticos da natureza (solo, corpos d’água, atmosfera) influenciam e são influenciados pelos componentes bióticos da natureza. Plantas, fungos e bactérias alteram e moldam o solo, o que, por sua vez, permite que outras plantas e toda uma multidão de outros organismos prosperem, incluindo os seres humanos.

A natureza trabalha mantendo o equilíbrio. Os relacionamentos destrutivos não são sustentáveis e são efetivamente descontinuados ao longo do tempo. Nenhum predador consome sua presa indiscriminadamente. Os relacionamentos exploratórios são certamente uma parte importante da natureza, mas são sempre equilibrados ou acabam com a perda de uma ou de ambas as espécies. Os resíduos são raros por natureza.

Para mim, um dos aspectos mais surpreendentes da natureza é a complexidade e a interdependência de todas as coisas. Apesar do aparente egoísmo e do cruel aspecto da luta pela sobrevivência, todos os organismos dependem um do outro para sobreviver. Quando olhamos atentamente para a natureza, encontramos muito mais dependência e cooperação do que isolamento e competição.

Então, qual é o problema? A Terra é um planeta muito grande, e ainda existem espaços abertos onde não há humanos por perto. Embora isso seja verdade em um sentido (mas tornando-se menos a cada ano), em realidade estamos vivendo durante um período sem precedentes na história da humanidade. Nosso impacto no meio ambiente, conhecido como pegada ecológica, é mais visível do que nunca. Já não podemos negar razoavelmente a realidade de que estamos destruindo o delicado equilíbrio da natureza do qual nós e toda a vida dependemos e estamos mudando nosso planeta de forma potencialmente irreversível. A ironia disso tudo é que estamos, em última análise, destruindo a nós mesmos. O vencedor do prêmio Pulitzer e professor de Harvard E. O. Wilson escreveu em seu livro de 1998, Consilience: The Unity of Knowledge, (Convergência: a unidade do conhecimento): “Poucos duvidarão que a humanidade tenha criado um problema do tamanho de um planeta para si mesma. Ninguém desejou, mas somos a primeira espécie a se tornar uma força geofísica, alterando o clima da Terra, um papel previamente reservado para forças tectônicas, erupções solares e ciclos glaciais.”3

Essa mudança é tão profunda que, em 2008, um grupo de geólogos da Sociedade Geológica de Londres considerou uma proposta para nomear uma nova época geológica após o Holoceno: o Antropoceno.4 O raciocínio era um reconhecimento do crescente impacto geológico da influência humana sobre ecossistemas, uso da terra e biodiversidade. Os cientistas continuam a debater sobre quando colocar o marco inicial do Antropoceno. Alguns acham que deveria voltar ao início da agricultura, há milhares de anos, enquanto outros propuseram datas recentes, como 1945, quando os testes nucleares de Trinity foram conduzidos; ou 1964, quando o que é conhecido como a “grande aceleração” de nossa capacidade de causar impacto sobre o planeta começou. Mas todos concordam que entramos em uma época em que os seres humanos, como espécie, estão moldando a natureza em escala global. Em 2015, Lewis e Maslin escreveram na revista Nature: “Em grande parte, o futuro do único lugar em que se sabe que exista vida está sendo determinado pelas ações dos seres humanos.”5

Agora você pode estar pensando: espere, os humanos já existem há muito tempo. Por que tudo isso estaria acontecendo agora? O motivo é matemático: mais. Mais humanos têm mais capacidade de alterar o meio ambiente. Todas as civilizações tiveram um efeito negativo em seu ambiente até certo ponto; no entanto, a revolução industrial no século XIX permitiu que os humanos florescessem e prosperassem às custas de outros organismos e do meio ambiente em uma escala sem precedentes. Desde então, as populações humanas dispararam. Os humanos levaram mihares de anos para chegar a uma população de 1 bilhão no ano de 1804. O segundo bilhão levou apenas 123 anos para ser alcançado (1927), e desde então temos acrescentado 1 bilhão de pessoas a cada 12 ou 14 anos. Os estudantes de ecologia reconhecerão esse tipo de curva de crescimento como crescimento exponencial. A boa notícia é que a taxa de crescimento atingiu o pico no final da década de 1960 e começou a desacelerar; no entanto, ajustando esse declínio na taxa de crescimento, ainda estamos no ritmo de atingir 8 bilhões em 20256 e 11 bilhões no final do século. Em um piscar de olhos geológicos, nossa espécie cresceu de forma explosiva, em população e em tecnologia, e nosso impacto continua sendo global.

Os cientistas estimam que atualmente 83% da biosfera terrestre7 está sob uma influência humana direta.8 As terras usadas para produção de alimentos humanos (terras cultivadas e pastagens) agora ocupam cerca de 40% da superfície terrestre, tornando-se um dos maiores biomas da Terra.9 Atualmente, 10% da água doce renovável total é desviada para uso humano. As florestas monoculturais artificiais, como as plantações para extração de óleo de palma e de madeira, agora cobrem milhões de quilômetros quadrados em todo o mundo.10 Um estudo recente usou dados de rastreamento por satélite de mais de 70 mil navios de pesca comercial e descobriu que, ao controlar áreas onde os dados de satélite são ruins, estamos atualmente pescando cerca de 73% do oceano.11

Durante esse mesmo período de sucesso sem precedentes em termos de crescimento humano e avanço da tecnologia, nossa atmosfera, nossa terra, oceanos e as espécies não humanas foram grandemente impactadas. Algumas espécies aumentaram em número, como nossos animais domésticos; no entanto, a maioria sofreu grandes perdas, juntamente com os hábitats dos quais dependem.

Dois relatórios recentes de estudos que analisaram populações de insetos ao longo de várias décadas encontraram declínios alarmantes. Em um estudo de 27 anos (1989-2016) em uma reserva protegida na Alemanha, os cientistas documentaram um declínio de 76% nos biomas de insetos voadores.12 Da mesma forma, na floresta tropical de Porto Rico, os cientistas documentaram 98% e 78% de declínio na biomassa de insetos terrestres e dos que habitam no dossel, respectivamente, durante um período de 36 anos (1976-2012).13 Os vertebrados não estão se saindo muito melhor. Atualmente, 25% dos mamíferos, 12% dos pássaros e 32% dos anfíbios estão ameaçados de extinção, de acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza.14 A principal causa é a perda do hábitat, embora a poluição, a caça furtiva e a colheita excessiva também sejam importantes colaboradores.

Você já deve ter ouvido que os cientistas acreditam que as espécies estão sendo extintas a uma velocidade de 10 a 1.000 vezes acima da “normal” da linha de base.15 A razão para o alto nível de variabilidade nas estimativas é que esses dados são muito difíceis de coletar e a história de vida de cada espécie pode variar bastante. Faço parte do comitê que avalia o status dos peixes-bois a cada década ou mais e posso afirmar que não é uma tarefa fácil. Apesar dessas complicações, a maioria dos biólogos concorda que estamos perdendo espécies a taxas alarmantes e que os seres humanos são direta ou indiretamente a causa do problema.16

As temperaturas globais médias aumentaram, e isso está relacionado ao aumento atmosférico de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano. O nível do mar aumentou e as geleiras encolheram, tudo nos últimos 50 a 60 anos. A lista continua: espécies invasoras mudam os ecossistemas locais, o desmatamento excede o plantio de novas árvores, poluição, derretimento das regiões polares, branqueamento de corais. Meus alunos que viajaram para a Flórida e Cuba em viagens ecológicas testemunharam muitos desses problemas em primeira mão. Eles viram corais branqueados e danificados e lixo plástico enquanto mergulhavam em Florida Keys e testemunharam os efeitos devastadores de espécies invasoras, como o peixe-leão (Pterois spp.), em Cuba, e a píton-birmanesa, na Flórida. Vinte anos atrás, quando participei como estudante do curso de Ecologia da Flórida, vi cervos de cauda branca, guaxinins e outros mamíferos no Parque Nacional Everglades. Em 2017, quando voltei como professor com um grupo de alunos, não vimos nenhum deles, nem mesmo atropelados na estrada, devido ao crescimento explosivo da população da píton invasora.

A questão agora é: o que podemos fazer? De fato, nós devemos fazer alguma coisa? Como educadores cristãos, como podemos responder a esse desafio global atual? Se olharmos para o cristianismo convencional, descobriremos que nos Estados Unidos, paradoxalmente, ele tende a apoiar o desenvolvimento, e não a conservação; a desregulamentação, e não a proteção ambiental. Embora seja verdade que na última década várias organizações cristãs tenham adotado ideias relacionadas à sustentabilidade, elas são a exceção à regra.

Mas e os adventistas do sétimo dia? Somos diferentes? Nossa declaração oficial da igreja aprovada em meados dos anos 1990 pode surpreender alguns por causa do uso de linguagem direta e forte ao falar de nossas obrigações morais (ver Quadro 1 para a declaração completa). Ela indica que a natureza é um presente de Deus e que nós, como seres humanos, somos responsáveis por grande parte do sofrimento e destruição atuais devido ao nosso “egoísmo e ganância”. Isso exige uma mudança radical em nosso comportamento, baseada no “respeito à natureza” e na “dignidade da vida criada”.

Então por que tratamos a natureza com tanta indiferença e miopia? Por que não praticamos o que pregamos? Por que nem pregamos isso? Penso que há duas razões possíveis para a nossa indiferença em relação à natureza e a dissonância cognitiva entre o que dizemos e o que fazemos. A primeira é peculiar à nossa denominação, e a segunda compartilhamos com o resto do cristianismo e talvez com a sociedade ocidental como um todo. Ao explorar essas duas razões possíveis, espero capacitar os educadores adventistas para superá-las.

Acho que tendemos a ser indiferentes aos problemas ambientais porque não acreditamos que viveremos para ver as consequências. Cada geração adventista do sétimo dia desde os mileritas acredita ser a última geração. Poderia nossa crença apocalíptica na breve volta de Jesus produzir um efeito colateral negativo não intencional, uma indiferença em relação aos desastres que os seres humanos estão causando?

A falta de conhecimento ambiental básico não parece ser o principal problema. Um dos poucos estudos sobre alfabetização ambiental adventista do sétimo dia descobriu que os professores adventistas na Flórida pontuavam comparativamente com a população em geral e tinham pelo menos alfabetização ambiental nominal, com as pontuações mais altas na subescala cognitiva (conhecimento) e as pontuações mais baixas na subescala comportamental.17

Será que somos indiferentes à realidade atual do nosso planeta porque acreditamos que Jesus está voltando “muito em breve” e Ele simplesmente apertará o “botão de reiniciar”? Enquanto isso, gerações passam; e, como resultado, continuamos vivendo com nossas decisões míopes e nossa inação. Toda nova geração fica com uma Terra mais degradada, com menos recursos e maiores problemas. Mesmo que o Senhor viesse hoje, isso justificaria ou desculparia nossas ações descuidadas ou inações em relação aos problemas ambientais?

Existem exemplos claros na Bíblia de conexão entre nosso pecado e ganância e a destruição e sofrimento da natureza. Oseias escreveu que “não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios. Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem” (Os 4:1-3, ARA, itálico acrescentado).18

Pode-se argumentar que a destruição ambiental é um subproduto do nosso pecado contra a humanidade e contra Deus, as únicas entidades pelas quais somos responsáveis, certo? Seguramente a destruição direta ou indireta (na forma de inação) da Terra não é pecaminosa em si mesma. Seremos julgados por Deus pela maneira como tratamos o planeta, a vida selvagem e a terra física que Ele nos confiou?

Mencionei que havia duas razões para nossa indiferença. Enquanto a primeira é um subproduto de nossas crenças apocalípticas, a segunda resulta da falta de uma ética da terra. Uma ética é o conjunto de normas que nos ajudam a saber o que é certo e errado. A regra de ouro é um exemplo de ética entre indivíduos. Baseamos nossas decisões morais em nossas visões éticas. “Ainda não há ética que trate da relação do homem com a terra e com os animais e plantas que nela crescem”,19 escreveu Aldo Leopold no capítulo final de seu pequeno livro, A Sand County Almanac:And Sketches Here and There (1949) [Almanaque de um condado arenoso e alguns ensaios sobre outros lugares]. Leopold sugeriu que precisamos estender os limites de nossa ética para incluir a água, plantas e animais, ou seja, coletivamente, a Terra. Isso pode parecer óbvio, mas quantos de nós pensamos que é uma questão moral quando tomamos decisões sobre nossa produção de lixo ou consumo de recursos? Existiria alguma coisa moralmente errada na compra de veículos que poluem em excesso ou em casas desnecessariamente grandes, desde que tenhamos recursos financeiros para isso? E. O. Wilson colocou essa questão desta maneira: “Portanto, uma escolha muito faustiana está sobre nós: aceitar nosso comportamento corrosivo e arriscado como o preço inevitável do crescimento populacional e econômico, ou fazer um balanço de nós mesmos e procurar uma nova ética ambiental.”20

Então, qual é a escolha moral que devemos fazer como adventistas que vivem no Antropoceno? E que papel temos como educadores? Acho que precisamos usar a ética da terra junto com nossa outra ética em relação à humanidade e a Deus para moldar nosso comportamento. Isso significa que tomaremos decisões baseadas no bem-estar não apenas de nós mesmos (humanos), mas também de toda a criação, e não apenas no momento atual, mas também para as gerações futuras de todas as criaturas. Como educadores, temos a tarefa de ensinar a ética da terra, juntamente com a ética que já ensinamos em relação a Deus e à humanidade.

Lidando com problemas ambientais complexos e globais

É essencial evitar extremos. Meus 15 anos de trabalho com preservação me ensinaram que é importante conhecer pessoas do meio e estar pronto para fazer concessões. Temos que ser realistas. Por exemplo, a maioria das pessoas concorda que devemos tentar reduzir nosso rastro comprando carnes produzidas e manipuladas de forma responsável, se quisermos consumir carne. Pedir para que todos parem de usar automóveis não funciona. Mas, certamente, podemos concordar que devemos tentar reduzir o consumo de combustíveis fósseis e investir recursos em transporte público e em pesquisas para desenvolver tecnologia que ofereça alternativas que dependam de recursos renováveis. Não é realista proibir o uso de todos os plásticos, mas todos podemos concordar que não queremos um mundo com mais plástico que peixes em nossos oceanos (o que poderia acontecer em 2050!).21

Os problemas ambientais que enfrentamos são complexos e de natureza global e exigirão não apenas mudanças pessoais, mas também modificações políticas e institucionais. As decisões pessoais são amplamente conhecidas (por exemplo, uso de lâmpadas de consumo eficiente de energia, compras locais, consumo moral de recursos, planejamento familiar etc.), assim, não vou me concentrar nelas. Mudanças institucionais e políticas exigirão a aplicação da ética da terra quando selecionarmos nossos líderes e os responsabilizarmos quando as coisas estiverem indo bem e também quando falharem. Há muito a ser dito sobre essas mudanças necessárias, mas o foco deste estudo está na educação adventista.

O que podemos fazer como educadores adventistas?

  1. Desenvolver em nossos alunos um caráter moral que inclua uma ética da terra. Como educadores, desempenhamos um papel substancial na formação das normas éticas de nossos alunos. Ellen G. White escreveu: “A verdadeira educação comunica esta sabedoria. Ensina o melhor uso não somente de uma, mas o de todas as nossas habilidades e aquisições. Assim abrange todo o ciclo das obrigações: para com nós mesmos, para com o mundo e para com Deus.”22 Devemos ajudar nossos alunos a ir além da alfabetização ambiental nominal (básica) para a alfabetização ambiental operacional (comportamental), incutindo em seu coração e mente uma convicção moral sobre o cuidado com o nosso planeta.
  2. Informe os alunos sobre o estado atual do planeta. É importante que eles recebam as informações científicas mais precisas e atualizadas sobre o estado do nosso planeta e como os humanos o afetam (consulte o Quadro 2). Se esses recursos não estiverem prontamente disponíveis nos materiais científicos fornecidos por nossa igreja, exija-os. Solicite que os recursos sejam alocados nos vários níveis (União, Divisão e Conferência Geral) para que possam ser desenvolvidos por cientistas adventistas especializados em áreas afins, como ciências da terra, geologia, conservação e biologia populacional, ecologia, ciências climáticas etc.
  3. Ser exemplo de uma vida sustentável e consumir recursos de forma responsável. Pense nos recursos que você usa em casa e na sala de aula. Evite usar plásticos descartáveis e recicle sempre que possível. Considere o lixo que sua escola produz todos os dias. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, os americanos produzem em média 2,04kg de resíduos por dia.23 Quanto disso acaba em um aterro sanitário ou no oceano e quanto tempo esses resíduos continuarão a existir após o descarte?
  4. Desafie seus alunos a pensar no futuro. Crie projetos em suas aulas que explorem os problemas que os humanos estão enfrentando e desafie seus alunos a criar soluções. Programe uma feira ambiental anual onde os alunos possam apresentar seus projetos e ideias para resolver problemas ambientais. Ensine as crianças sobre educação cívica e a importância do voto.
  5. Eleja e apoie líderes que entendam a importância de uma ética da terra. Como cidadãos ativos, devemos apoiar aqueles que entendem a importância de uma ética da terra, sejam eles administradores de igrejas ou escolas, líderes locais, estaduais ou federais. Como professores, podemos expressar nossa preocupação quando são tomadas decisões contrárias a essa ética. Podemos apoiar iniciativas que garantam às gerações futuras a beleza estética e os benefícios ecológicos que agora recebemos do mundo natural e que muitas vezes assumimos como um fato que naturalmente merecemos.

Assim como as comunidades podem criar uma destruição terrível, elas também podem praticar ações para o bem. Observe que usei a terminologia “moral” ao descrever ações humanas que afetam o nosso planeta. Como comunidades escolares locais, podemos ser um exemplo para a comunidade maior. Imagine se acontecer o seguinte em nossas escolas:

    • as universidades e escolas locais fornecerem itens de horticulturas gratuitos para as comunidades em que estão localizadas, bem como treinamento sobre como cultivar vegetais organicamente;
    • escolas e instituições não apenas reciclarem seus resíduos, mas também apoiarem ou construírem centros de reciclagem para onde a comunidade maior pudesse trazer seus resíduos de plástico, alumínio e papel;
    • escolas e universidades se esforçarem para ser neutras em carbono e focadas no uso de recursos sustentáveis;
    • novos prédios forem planejados, e prédios antigos, reformados para atender a certificação ambiental externa, como a concedida pela organização não governamental Leed (Leadership in Energy and Environmental Design - Liderança em Energia e Design Ambiental);
    • escolas, faculdades e universidades comprometerem-se a usar a energia de formas mais inteligentes e eficientes e investirem em fontes de energia sustentáveis, como a solar e a geotérmica.

Todas essas iniciativas estão bem alinhadas com a declaração oficial da Igreja Adventista do Sétimo Dia sobre o meio ambiente.

Será que alguma coisa pode realmente ser feita para reverter nossa trajetória atual? O meu lado pessimista diz: “Não, é tarde demais.” Ganância humana, interesses corporativos, ricos poderosos demais... E muitos que têm poder de decisão são míopes. Mas vejo a nova geração marchando ao redor do mundo defendendo a mudança e o reconhecimento das duras realidades ambientais que o mundo enfrenta.24 Ouço esses jovens advogando alguma coisa em que acreditam e com bases morais. Eles veem a urgência da situação e querem fazer algo a respeito. Eles reconhecem que já temos soluções financeiramente viáveis e com bases científicas.

As políticas ambientais e a ação popular melhoraram muitos dos problemas ambientais, resultando em melhoria do ar25 e da água,26 além de trazer de volta as espécies à beira da extinção.27 A mudança é difícil, e muitos não têm vontade de fazê-la; no entanto, acredito que uma nova geração tenha coragem de implementar essa mudança.28

Como educadores adventistas, precisamos capacitar nossos jovens com sólido conhecimento sobre o assunto e nutrir seu desejo de mudança, incentivando-os a seguir uma ética da terra, em vez de se tornar um obstáculo adicional ao progresso. Acredito que, se adotarmos uma ética da terra e ampliarmos nossos limites morais para abraçar a natureza como um presente de Deus, poderemos encontrar um equilíbrio entre as necessidades humanas e o mundo natural. Será fácil? Não. Será necessário sacrifício e terá algum custo para nosso estilo de vida atual. A palavra compaixão literalmente significa “sofrer com”, isto é, o sentimento que surge quando alguém é confrontado com o sofrimento do outro e se sente motivado para aliviá-lo.

Algumas coisas desapareceram para sempre. As gerações anteriores escolheram um mundo sem rinoceronte branco do norte (Ceratotherium simum cottoni), golfinhos chineses (Lipotes vexillifer) e sapos dourados (Incilius periglenes). Não podemos mudar isso agora. Lembra-se das mariposas sátiro de Mitchell no brejo norte de Berrien Springs? Bem, as últimas pesquisas no verão de 2018 indicaram que foram extintas ali, embora outras populações dessa espécie possam existir em outros lugares, e os planos do município de terminar a estrada foram reaprovados e terão início em 2021.

Em 1999, quando eu era aluno de Biologia na Universidade Andrews, a revista Focus, dos ex-alunos, publicou um artigo sobre nossos desafios ambientais e como a universidade estava lutando com eles.29 Nesse artigo, o Dr. Woodland (naquela época, membro do corpo docente do departamento de biologia) descreveu muitos dos mesmos problemas compartilhados neste artigo e forneceu uma lista de coisas que a escola poderia fazer para resolvê-los. Enquanto o então presidente apoiava essas recomendações e concordava que elas se encaixavam bem em nossas crenças filosóficas adventistas e nos objetivos da universidade, foi levantada preocupação sobre o potencial ônus financeiro. Hoje, cerca de 20 anos depois e quase meio século após a primeira celebração do Dia da Terra na universidade, os mesmos problemas persistem, agora mais sérios do que antes. Muitas de nossas escolas enfrentam desafios semelhantes. Nossa declaração oficial da igreja sobre o meio ambiente foi divulgada há quase 25 anos, e não agimos de maneira substancial como denominação para resolver o problema.

Agora, viaje comigo em sua mente 25, 50, 100 anos no futuro. Se Jesus não retornou, qual será a conversa entre os jovens adventistas do sétimo dia que vivem no Antropoceno enquanto leem e refletem sobre nossa declaração ambiental oficial, publicada em 1996, e os antigos artigos da Focus, em 1999, e desta revista, em 2013 e 2019? Essa conversa será de decepção sobre nossa incapacidade de valorizar e preservar a criação de Deus e, finalmente, sobre nossa própria contribuição para um planeta empobrecido? Ou será de encorajamento ao perceber que, desde então, agimos como uma força positiva para garantir um planeta melhor para aqueles que viriam depois e lideramos o caminho através de nossos próprios sacrifícios? A geração antes de nós fez sua escolha; agora é o momento de fazermos a nossa.


Este artigo foi revisado por pares.

Daniel Gonzalez-Socoloske

Daniel Gonzalez-Socoloske, PhD, é professor associado de Biologia na Andrews University (Berrien Springs, Michigan, Estados Unidos). O Dr. Gonzalez-Socoloske concluiu seu doutorado em Ecologia na Duke University, em Durham, Carolina do Norte (Estados Unidos). Ele é especialista em ecologia e conservação de mamíferos e é membro da Society for Marine Mammalogy, uma sociedade latino-americana de especialistas em mamíferos aquáticos, e é consultor científico do Sirenia Specialist Group, um subgrupo da Comissão de Sobrevivência de Espécies (SSC) da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Ele leciona ecologia geral, bioestatística, comportamento animal e mamíferologia.

Citação recomendada:

Daniel Gonzalez-Socoloske , “Por que a natureza é importante: educação adventista do sétimo dia no Antropoceno ,” Revista Educação Adventista 81:3 (julho - setembro de 2019). Disponível em: https://www.journalofadventisteducation.org/pt/2019.81.3.6.

NOTAS E REFERÊNCIAS

  1. Na ecologia, espécies endêmicas são aquelas encontradas apenas em uma localização geográfica ou região e em nenhum outro lugar.
  2. Ron Sender, Shai Fuchs e Ron Milo, “Revised Estimates for the Number of Human and Bacterial Cells in the Body,” PLOS Biology 14:8 (Agosto de 2016): e1002533. Acreditava-se que essa proporção fosse muito maior na ordem de 10:1 bactérias para células humanas, mas foi recentemente revisada para uma proporção mais próxima de 1:1. De qualquer maneira, compartilhamos nosso corpo com um número surpreendentemente grande de outros organismos.
  3. Edward Osborn Wilson, Consilience: The Unity of Knowledge (New York: Vintage, 1999), p. 277-278.
  4. Veja a revisão de Colin N. Waters et al., “The Anthropocene Is Functionally and Stratigraphically Distinct from the Holocene,” Science 351:6269 (janeiro de 2016): aad2622-1-aad2622-10. Os geólogos dividem os períodos geológicos em épocas; o Holoceno começou após o final da última era glacial cerca de 10.000 ybp (data convencional). O Antropoceno vem da raiz da palavra Anthro, que significa “humano”, então literalmente significa “idade dos humanos”.
  5. Simon L. Lewis e Mark Andrew Maslin, “Defining the Anthropocene,” Nature 519: 7542 (março de 2015): 171-180.
  6. As Nações Unidas preveem que em 2025 a população mundial aumentará de 1 bilhão para aproximadamente 8 bilhões de pessoas. Veja “World Population to Increase by One Billion by 2025” (2013). Disponível em: https://www.unfpa.org/news/world-population-increase-one-billion-2025.
  7. A biosfera abrange todos os componentes bióticos e abióticos do planeta Terra. A biosfera terrestre inclui todas as terras, lagos e rios dentro da biosfera (excluindo os oceanos).
  8. Eric Sanderson et al., “The Human Footprint and the Last of the Wild,” BioScience 52:10 (outubro de 2002): 891-904.
  9. Jonathan A. Foley et al., “Global Consequences of Land Use,” Science 309:5734 (julho de 2005): 570-574. Os ecologistas dividem tipos diferentes de hábitats terrestres em biomas baseados principalmente no clima regional (temperatura e precipitação) e na comunidade de plantas.
  10. Michael Williams, “Forests.” In The Earth as Transformed by Human Action: Global and Regional Changes in the Biosphere over the Past 300 Years. B. L. Turner II et al., eds. (Cambridge: Cambridge University Press, 1990), p. 179-201.
  11. David A. Kroodsma et al., “Tracking the Global Footprint of Fisheries,” Science 359:6378 (fevereiro de 2018): 904-908.
  12. Casper A. Hallmann et al., “More Than 75 Percent Decline over 27 Years in Total Flying Insect Biomass in Protected Areas,” PLoS One 12 (outubro de 2017): e0185809.
  13. Bradforld C. Lister e Andres Garcia, “Climate-driven Declines in Arthropod Abundance Restructure a Rainforest Food Web,” Proceedings National Academy of Sciences 115:44 (outubro de 2018): E10397-E10406.
  14. Secretariat of the Convention on Biological Diversity (2010) Global Biodiversity Outlook 3. Montreal, 94 páginas.
  15. Megan Lamkin e Arnold I. Miller, “On the Challenge of Comparing Contemporary and Deep-Time Biological-Extinction Rates,” BioScience 66:9 (setembro de 2016): 785-789. Disponível em: https://doi.org/10.1093/biosci/biw088.
  16. Veja, por exemplo: William K. Hayes e Floyd E. Hayes, “How Does Human Activity Affect Species Extinctions?” The Journal of Adventist Education 76:1 (outubro/novembro de 2013): 23-29. Disponível em: http://circle.adventist.org/files/jae/en/jae201376012307.pdf.
  17. Michael Murdoch, “Environmental Literacy of Seventh-day Adventist Teachers in the Parochial Schools of the Florida Conference of Seventh-day Adventists,” Journal of Applied Christian Leadership 6:2 (2012): 69-87. A alfabetização ambiental pode ser medida em três escalas: alfabetização ambiental nominal (compreensão básica dos termos), alfabetização ambiental funcional (conhecimento mais amplo e compreensão das interações entre sistemas humano e natural) e alfabetização ambiental operacional (maior profundidade e amplitude na compreensão do impacto e das consequências das ações pessoais). Murdoch descobriu que os professores adventistas tinham, pelo menos, alfabetização ambiental nominal, que era comparável ao resto da população em geral, mas que isso não se correlacionava com comportamentos e ações positivas em relação ao meio ambiente.
  18. Oseias 4:1-3. Almeida Revista e Atualizada (ARA). Bíblia Sagrada, Almeida Revista e Atualizada®, ARA®. Todos os direitos reservados.
  19. Aldo Leopold, A Sand County Almanac: And Sketches Here and There (New York: Oxford University Press, Inc., 1949), 203. Disponível em: http://www.umag.cl/facultades/williams/wp-content/uploads/2016/11/Leopold-1949-ASandCountyAlmanac-complete.pdf.
  20. Wilson, Consilience: The Unity of Knowledge, p. 277, 278.
  21. World Economic Forum, Ellen MacArthur Foundation and McKinsey & Company, “The New Plastics Economy: Rethinking the Future of Plastics” (2016). Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/publications/the-new-plastics-economy-rethinking-the-future-of-plastics-catalysing-action.
  22. Ellen G. White, Educação (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2003), p. 225 (itálico acrescentado).
  23. United States Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), “Advancing Sustainable Materials Management: 2015 Fact Sheet” (julho de 2018). Disponível em: https://www.epa.gov/sites/production/files/2018-07/documents/2015_smm_msw_factsheet_07242018_fnl_508_002.pdf.
  24. Na sexta-feira, 15 de março de 2019, estima-se que 1,5 milhão de jovens em mais de 2 mil locais, em 123 países, faltaram às aulas e marcharam em uma greve escolar global pedindo por mudanças climáticas, chamada: #FridayForFuture. Ver Chad Frischmann, “The Young Minds Solving Climate Change,” BBC Future (29 de março de 2019). Disponível em: http://www.bbc.com/future/story/20190327-the-young-minds-solving-climate-change.
  25. John Bachmann, David Calkins e Margo Oge. “Cleaning the Air We Breathe: A Half Century of Progress,” EPA Alumni Association (setembro de 2017), p. 52. Disponível em: https://www.epaalumni.org/hcp/air.pdf. Antes das alterações da Clean Air Act Amendments (Lei do Ar Limpo), em 1970, as principais cidades dos Estados Unidos sofriam de poluição densa e chuva ácida, e o problema estava piorando. Meio século desde que a lei foi promulgada, vários programas reduziram as emissões de poluição do ar em 70%, enquanto a economia mais que dobrou. A qualidade do ar nos Estados Unidos melhorou dramaticamente, proporcionando benefícios significativos ao meio ambiente e à saúde humana.
  26. David A. Keiser e Joseph S. Shapiro, “Consequences of the Clean Water Act and the Demand for Water Quality,” NBER Working Paper No. 23070 (janeiro de 2017), p. 48. Disponível em: https://www.nber.org/papers/w23070.pdf. Como a Clean Air Act (Lei do Ar Limpo), a Clean Water Act (Lei da Água Limpa), aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1972, melhorou drasticamente o estado ambiental das bacias hidrográficas e reduziu os níveis de poluição. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para atingir os objetivos originais de tornar todas as águas do país boas para pesca e para nadar, em 1983, e com zero de descarga de poluição em 1985. A maioria dos riachos, lagos e áreas costeiras americanas ainda viola os padrões de qualidade da água.
  27. Várias espécies à beira da extinção recuperaram-se devido à aplicação de leis e proteção ambiental. O exemplo clássico dos Estados Unidos é a águia americana (Haliaeetus leucocephalus). Ver Wade L. Eakle et al., “Wintering Bald Eagle Count Trends in the Counterminous United States, 1986-2010,” Journal of Raptor Research 49:3 (janeiro de 2015): 259-268.
  28. A edição de outubro/novembro de 2013 da Revista Educação Adventista (v. 76, n. 1) apresentou vários artigos sobre cuidados ambientais e escolas ecológicas. Também existem muitas instituições que estão avançando no sentido de serem mais conscientes com o meio ambiente; no entanto, mais pode e deve ser feito para aumentar a conscientização, proteger o meio ambiente e diminuir o desperdício.
  29. Chris Carey, “It’s Not Easy Being Green: Twenty-nine Years after the First Earth Day, Andrews Still Struggles to Address Environmental Issues on Campus,” Focus 35 (primavera de 1999): 10-14. Disponível em: https://digitalcommons.andrews.edu/cgi/viewcontent.cgi?referer=https://www.google.com/&httpsredir=1&article=1034&context=focus.